Vicente de Carvalho, poeta santista,
diz, numa poesia famosa, que nunca encontramos a felicidade porque ela sempre
está apenas onde a pomos e nunca a pomos onde estamos. Procuramos no lugar
errado, nas curtições mundanas, nas seduções afetivas, no sucesso social e
profissional...
2 - Mas tudo isso não é próprio da natureza
humana? Não vivemos e nos movemos em função dessas realizações?
Sim, mas o problema é que fazemos
delas um fim em si, isto é, passamos a vida à procura disso tudo para sermos
felizes. No entanto, continuamos infelizes, mesmo quando realizamos nossos
desejos, porque outros desejos surgem e estamos sempre insatisfeitos.
3 - Seria um
círculo vicioso? Anseio, realização, novos anseios, eterna insatisfação?
Mais ou
menos isso. É que não aprendemos que a felicidade deve ser construída a partir
do lugar onde estamos, da situação que estamos vivendo. Como ensina velho
ditado, a felicidade não é uma estação na viagem da vida. Trata-se de uma
maneira de viajar.
4 - Uma realização interior?
Exatamente, buscando descobrir os
potenciais divinos que há em
nós. Há uma lenda hindu muito interessante a esse respeito.
Conta-se que em tempos recuados todos os homens eram deuses. Abusaram tanto de
sua divindade que Deus decidiu retirar seus poderes divinos. O Senhor
considerou que não haveria lugar na Terra onde o homem não chegaria um dia.
Resolveu, então, esconder os poderes divinos num lugar onde ele nunca se
lembraria de procurar: dentro do próprio homem. Desde então, concluí a lenda,
procurando felicidade o homem conheceu a Terra, explorou o espaço, mergulhou
nos mares, escalou montanhas, em busca de algo que se encontra em seu próprio
íntimo. Por isso Jesus dizia que o Reino de Deus está dentro de nós.
5 - Como fazer para alcançar esse Reino, essa
descoberta de nossos poderes divinos, realizando a felicidade onde estamos?
Isso
exige o cultivo de uma atividade não muito apreciada, principalmente pelos
jovens, envolvidos com as badalações juvenis. Chama-se reflexão.
6 - Uma
espécie de parar e pensar?
Mais ou
menos isso. O bispo Bossuet, grande orador sacro francês, dizia que a reflexão
é o olho da alma. Exercitá-la é nos voltarmos para dentro de nós mesmos,
procurando, como Espíritos eternos em trânsito pela Terra, encontrar nosso
espaço na vida, nossa tranqüilidade para viajar, sem deixar que as fraquezas
humanas nos conduzam. Ouvi de um mentor espiritual que se exercitássemos quinze
minutos diários de reflexão, operaríamos prodígios em favor de nossa felicidade.
7 - Como poderíamos
entender Isso de forma mais objetiva?
Santo Agostinho ensina, em «O Livro dos
Espíritos”, que ele encontrou seu caminho a partir do momento em que passou a
fazer, todas as noites, um exame de consciência, refletindo a respeito do que
fora seu dia. Sobre o bem ou o mal que praticara, o que fizera de certo ou
errado, a maneira como tratara as pessoas, como lidara com as situações. Era
sempre severo consigo mesmo, disposto a iniciar um novo dia com o propósito de
não incorrer nos mesmos erros, de aproveitar as oportunidades de edificação.
Com semelhante empenho habilitava-se à proteção de benfeitores espirituais que
o inspiravam e fortaleciam.
8 - Funcionou com Santo
Agostinho, um Espírito luminar. Funcionaria comigo?
Antes de cultivar a reflexão Santo
Agostinho foi também um jovem imaturo que apreciava as curtições da mocidade, à
procura de felicidade nas estações da inconseqüência.
Do livro "NÃO PISE NA BOLA", de Richard Simonetti.
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