sábado, 11 de janeiro de 2014

EM TORNO DA PRECE

  No Templo do Socorro (1), o Ministro Clarên­cio comentava a sublimidade da prece, e nós o ouvíamos com a melhor atenção.
— Todo desejo — dizia, convincente — é ma­nancial de poder. A planta que se eleva para o alto, convertendo a própria energia em fruto que alimenta a vida, é um ser que ansiou por multipli­car-se...
— Mas todo petitório reclama quem ouça —interferiu um dos companheiros. — Quem teria respondido aos rogos, sem palavras, da planta?
O  venerando orientador respondeu, tranquilo:
— A Lei, como representação de nosso Pai Celestial, manifesta-se a tudo e a todos, através dos múltiplos agentes que a servem. No caso a que nos reportamos, o Sol sustentou o vegetal, con­ferindo-lhe recursos para alcançar os objetivos que se propunha atingir.
E, imprimindo significativa entonação à voz, continuou:
— Em nome de Deus, as criaturas, tanto quan­to possível, atendem às criaturas. Assim como pos­suímos em eletricidade os transformadores de ener­gia para o adequado aproveitamento da força, temos igualmente, em todos os domínios do Universo, os transformadores da bênção, do socorro, do esclarecimento... As correntes centrais da vida partem do Todo-Poderoso e descem a flux, tran­substanciadas de maneira infinita. Da luz suprema à treva total, e vice-versa, temos o fluxo e o re­fluxo do sopro do Criador, através de seres incontáveis, escalonados em todos os tons do instinto, da inteligência, da razão, da humanidade e da an­gelitude, que modificam a energia divina, de acordo com a graduação do trabalho evolutivo, no meio em que se encontram. Cada degrau da vida está superlotado por milhões de criaturas... O caminho da ascensão espiritual é bem aquela escada mila­grosa da visão de Jacob, que passava pela Terra e se perdia nos céus... A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corres­ponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina. Desejos banais en­contram realização próxima na própria esfera em que surgem. Impulsos de expressão algo mais no­bre são amparados pelas almas que se enobreceram. Ideais e petições de significação profunda na imor­talidade remontam às alturas...
O  mentor generoso fêz pequeno intervalo, como a dar-nos tempo para refletir e acentuou:
— Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de frequência e todos estamos cercados por Inteligên­cias capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras. Sabemos que a Humanidade Universal, nos infinitos mundos da grandeza cósmica, está constituída pelas criaturas de Deus, em diversas idades e posições... No Rei­no Espiritual, compete-nos considerar igualmente os princípios da herança. Cada consciência, à me­dida que se aperfeiçoa e se santifica, aprimora em si qualidades do Pai Celestial, harmonizando-se, gradativamente, com a Lei. Quanto mais elevada a percentagem dessas qualidades num espírito, mais amplo é o seu poder de cooperar na execução do Plano Divino, respondendo às solicitações da vida, em nome de Deus, que nos criou a todos para o Infinito Amor e para a Infinita Sabedoria...
Quebrando o silêncio que se fizera natural para a nossa reflexão, o irmão Hilário perguntou:
—  Contudo, como interpretar o ensinamento, quando estivermos à frente de propósitos malignos? um homem que deseja cometer um crime estará também no serviço da prece?
—  Abstenhamo-nos de empregar a palavra «prece», quando se trate do desequilíbrio — aduziu Clarêncio, bondoso —, digamos «invocação».
E acrescentou:
—  Quando alguém nutre o desejo de perpe­trar uma falta está invocando forças inferiores e mobilizando recursos pelos quais se responsabili­zará. Através dos impulsos infelizes de nossa alma, muitas vezes descemos às desvairadas vibrações da cólera ou do vício e, de semelhante posição, é fácil cairmos no enredado poço do crime, em cujas furnas nos ligamos, de imediato, a certas mentes estagnadas na ignorância, que se fazem instrumen­tos de nossas baixas idealizações ou das quais nos tornamos deploráveis joguetes na sombra. Todas as nossas aspirações movimentam energias para o bem ou para o mal. Por isso mesmo, a direção delas permanece afeta à nossa responsabilidade. Analisemos com cuidado a nossa escolha, em qual­quer problema ou situação do caminho que nos é dado percorrer, porqüanto o nosso pensamento voará, diante de nós, atraindo e formando a rea­lização que nos propomos atingir e, em qualquer setor da existência, a vida responde, segundo a nossa solicitação. Seremos devedores dela pelo que houvermos recebido.
O   Ministro sorriu, benevolente, e lembrou:
—  Estejamos convictos, porém, de que o mal é sempre um círculo fechado sobre si mesmo, guar­dando temporariamente aqueles que o criaram, qual se fora um quisto de curta ou longa duração, a dissolver-se, por fim, no bem infinito, à medida que se reeducam as Inteligências que a ele se aglu­tinam e afeiçoam. O Senhor tolera a desarmonia, a fim de que por intermédio dela mesma se efetue o reajustamento moral dos espíritos que a susten­tam, de vez que o mal reage sobre aqueles que o praticam, auxiliando-os a compreender a excelên­cia e a imortalidade do bem, que é o inamovível fundamento da Lei. Todos somos senhores de nos­sas criações e, ao mesmo tempo, delas escravos infortunados ou felizes tutelados. Pedimos e obte­mos, mas pagaremos por todas as aquisições. A responsabilidade é principio divino a que ninguém poderá fugir.
Nesse instante, uma jovem de semblante calmo penetrou no recinto e, dirigindo-se ao nosso orien­tador, falou algo aflita:
— Irmão Clarêncio, uma de nossas pupilas do quadro de reencarnações sob suas diretrizes pede socorro com insistência...
— É um apelo individual urgente? — indagou o Ministro, preocupado.
— É assunto inquietante, mas numa prece refratada.

O  prestimoso instrutor convidou-nos a acom­panhá-lo e seguimo-lo, atentamente.

Do livro "ENTRE A TERRA E O CÉU", pelo espírito André Luiz - psicografia de Chico Xavier.

(1) Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor. — Nota do Autor espiritual.

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