sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

AMANDO OS INIMIGOS

                                                      Emmanuel

"Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem..." -

Jesus. (Mateus, 5:44).

Sem liberdade é impossível avançar nas trilhas da evolução, mas fora do entendimento que nasce do amor, ninguém se emancipa nos caminhos da própria alma.

Seja onde seja e seja com quem for, deixa que a simpatia e a compreensão se te irradiem do ser.

Em qualquer parte onde palpite a vida, eis que a vida para crescer e aperfeiçoar-se roga o alimento do amor, tanto quanto pede a presença da luz.

De muitos recebes o apoio da bondade e outros muitos aguardam de ti semelhantes auxílio.

Da faixa dos benfeitores recolhes a bênção para transmiti-lo na direção dos que te não aceitam ou desajudam.

Nessa diretriz, os adversários, quaisquer que eles sejam, nunca te prenderão a desespero ou ressentimento.

Se surgem e atacam, abençoa-os com a justificativa fraterna ou com o pronto-socorro da oração. Entretanto, pensa, acima de tudo, na condição infeliz em que se colocam e compadece-te em silêncio.

Esse, por enquanto, não consegue desalojar-se do ergástulo da opinião individual; aquele, acomoda-se no azedume sistemático; outro descambou para equívocos dos quais, por agora, não sabe se afastar; aquele outro sofre sob a hipnose da obsessão; e aquele outro ainda está doente e talvez exija tempo longo, a fim de recuperar-se.

Entregarmos-nos à mágoa diante dos que perseguem e caluniam, é o mesmo que nos ajustarmos voluntariamente à onda de perturbação a que encadeiam.

Sob o granizo da ignorância ou da incompreensão, segue trabalhando, a servir sempre.

Observa os inimigos do bem e os agressores da renovação e, em lhes percebendo a sombra, condoer-te-ás de todos ele.

Faze isso e sempre que te pretendam agrilhoar ao desequilíbrio, a compaixão te libertará.

Do livro: Mais Perto. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

ALÉM DA TERRA

                                                       Emmanuel

Depois da morte do corpo:

A frase amiga que houvermos proferido no estímulo ao bem será um trecho harmonioso do cântico de nossa felicidade.

A opinião caridosa que formulamos, acerca dos outros, converter-se-á em recurso de benignidade da justiça divina, no exame dos nossos erros.

O pensamento de fraternidade e compreensão, com que nos recordamos do próximo, transformar-se-á em fator de equilíbrio.

O gesto de auxílio aos irmãos do nosso caminho oferecer-nos-á sublime colheita de alegria.

Mas, igualmente, além túmulo:

As maledicências, a que nos entreguemos, será espinheiro a provocar-nos dilacerações e feridas;

A nossa indiferença para as amarguras do próximo aparecerá por geleira, dificultando-nos os passos;

A nossa preguiça surgirá como sendo um gerador de penúria espiritual;

A nossa crueldade exibir-nos-á,na tela da consciência, a constante repetição dos quadros infelizes de nossos delitos, compelindo-nos à aflitiva demora em escuras paisagens purgatoriais.

A morte é o retrato da vida.

A verdade revelará na chapada memória as imagens que estiveres criando, sustentando e movimentando, no campo da existência.

Se desejas ventura e tranqüilidade, além das fronteiras de cinza, semeia, enquanto é tempo, a luz e a sabedoria que pretendes recolher, nas sendas da ascensão maior.

Hoje - plantação, segundo nossa vontade.

Amanhã - seara, conforme a lei.

Se agora cultivamos a sombra, decerto encontraremos, depois, a resposta das trevas.

Se, porém, semeamos o amor e a simpatia, onde encontramos, indiscutivelmente, mais tarde, penetraremos, ditosos, nos domínios da luz.

Do livro: Mais Perto. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ÁGUA DA VIDA

                                                       Emmanuel

Na Terra, a água é o ingrediente mais expressivo da vida orgânica.

No seio morno do mar nasceram os embriões de toda existência física.

Sem a presença dos rios, o homem não construiria a cidade e sem o apoio da chuva, ninguém colheria os frutos do campo.

Para que a vitalidade garanta a força corpórea, é preciso que a água amasse o pão das criaturas e para que a saúde humana seja mantida, quase sempre é indispensável seja ela o veículo da medicação que o socorre.

Assim como a água,preciosa e necessária ao progresso e à segurança do mundo, é também a piedade no campo espiritual de nossas relações uns com os outros.

Sem a piedade das mães que morrem, renunciando a si mesmas, não conheceríamos o conforto do lar; sem a piedade dos que ensinam, humilhando tantas vezes a si próprios, a ignorância seria noite invencível; e sem a piedade do amor fraterno que perdoa sem condições, o ódio entre as criaturas seria qual veneno volante e destruídos.

Piedade! Piedade!...

Guarda-a contigo no coração e no cérebro, para que o sentimento e a idéia te plasmem,onde estiveres, a palavra que reanime e que ajude; e conserva-a, limpa, em tuas atitudes e em tuas mãos para o trabalho que te verte do roteiro seja bênção de luz a clarear-te o caminho!

Recorda-te de que não prescindimos da piedade que regenera e levanta, a fim de que, ofertando-a hoje, possas recebê-la amanhã no dia de tua dor.

E, usando-a por água pura da vida, em todos os momentos, lembra-te de que a Terra, generosa e fecunda, revela, em toda parte, a Compaixão de Deus.

Do livro: Mais Perto. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ALCANCEMOS A LUZ

                                                           Emmanuel

"A fé transporta montanhas" - afirmou o Divino Mestre.

Em nossa condição de emparedados no vale sombrio das próprias dívidas, à frente da Lei, não nos detenhamos na feição exterior do ensinamento e, sim, apliquemos a beleza do símbolo, ao nosso próprio mundo interno.

Antigos prisioneiros do cárcere de reiteradas defecções espirituais, sentimo-nos cercados por pesadas colunas de treva a enceguecer-nos a visão.

Montanhas empedradas de revolta e indisciplina, inclinam-nos para os despenhadeiros do sofrimento.

Montanhas espinhosas de negligência e ociosidade, ameaçam-nos com os precipícios da negação e da dúvida.

Montanhas de leviandade e insensatez, induzem-nos a cair nos desvãos do tempo perdido.

Montanhas de débitos e aflições que formamos com os resíduos dos próprios erros, no curso dos milênios incessantes, desviam-nos o espírito para a inutilidade e para a morte.

Que a nossa fé seja hoje o instrumento de renovação dos nossos próprios caminhos.

Utilizando-a na obra paciente do amor, construiremos nova senda, a soerguer-nos para os cimos da vida.

Para conhecer com segurança é preciso discernir; para discernir é indispensável aprender; para aprender é necessário amar com todas as nossas forças.

Abençoadas revelações nos esperam nos montes do futuro, todavia, para alcançar o esplendor do porvir, é imprescindível desintegrar a neve da indiferença e diluir a sombra espessa da incompreensão que nos prendem à furna do egoísmo cristalizado.

Não basta nos demoremos em análises esterilizantes do escuro ambiente de purgação do pretérito em que nos encontramos, embora reconheçamos o diálogo construtivo por valioso ingrediente na edificação da verdade.

A hora que passa é preciosa demais para que lhe percamos a grandeza.

Saibamos abraçar a fé viva que o Cristo nos legou com a renunciação aos caprichos inferiores e, transformando-nos em sinceros trabalhadores, no aperfeiçoamento de nós mesmos pelo trabalho infatigável do bem, aniquilaremos as montanhas agressivas que nos separam do Mestre Divino e d"Ele receberemos o salário da luz com que assimilaremos os dons das mais altas revelações nos domínios da Vida Eterna.

Do livro: Mais Perto. Psicografia de Francisc
.o Cândido Xavier

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AFLITOS

                                                                                                                                    Emmanuel

"Bem-aventurados os aflitos!" - disse-nos o Divino Mestre.

Cabe-nos, todavia, considerar que semelhante felicidade não decorre simplesmente da dor pela dor.

Não podemos esquecer que a aflição é um dardo espiritual que nos impele à procura. E somente aqueles que procuram a frente se transformam em construtores do progresso.

Quem encontra para si mesmo um acordo acomodatício com as experiências da Terra, dificilmente consegue ausentar-se do vale da estagnação para os luminosos cimos do conhecimento superior, às vezes, tão-somente, acessíveis pelos trilhos pedregosos do sofrimento.

Todas as descobertas, que dilataram a alegria e a cultura no Planeta, nasceram na aflição de homens desajustados que souberam criar a renovação à custa do próprio sacrifício.

Guttemberg sente a angústia do pensamento enclausurado e estabelece o berço da imprensa.

Colombo reconhece a estreiteza do Mundo Antigo e, preocupado, avança no rumo da América.

Edison experimenta a inquietação das trevas e inventa a lâmpada elétrica que afugenta as sombras noturnas.

Marconi registra o tormento da separação que isola as criaturas entre si e aperfeiçoa o telégrafo, trazendo á civilização a maravilha do rádio.

Pasteur suporta consigo os padecimentos de milhões de enfermos e, atormentado, desenvolve a conquista salvadora contra os perigos do microcosmo.

Alinhamos estas citações para nos referirmos, tão-somente, a alguns dos missionários da prosperidade comum.

Não podemos olvidar, porém, acima de tudo, o martirológio do Grande e Inesquecível Aflito da Cruz.

Sentindo na própria alma as chagas da ignorância e da penúria que arruinavam a Humanidade, Cristo vem a nós e imola-se no madeiro, para que o Amor incendeie o coração humano na senda dos séculos.

Por esse motivo, a última lembrança do Divino Flagelado está expressa no desajustamento que o assinala no monte do testemunho.

Nem no céu indiferente aos enigmas do mundo, nem na Terra esquecido das perfeições celestiais, mas sim suspenso entre os anjos e os homens, como a dizer-nos que somente algemados à cruz de nossos próprios deveres é que acharemos, depois da procura vitoriosa, o excelso caminho de nossa própria ressurreição.

Do livro: Mais Perto. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

ADORAÇÃO

                                                        Emmanuel

Vejamos a diretriz de Jesus na adoração ao Pai Celestial, para assegurarmos equilíbrio à própria fé.

Não observamos o Mestre extasiado na contemplação expectante, exaltando a grandeza de Deus,através da quietude.

Da manjedoura à cruz, anotamo-lo em ardentes demonstrações de trabalho, exemplificando o ideal dinâmico e a caridade sem lindes.

Manifesta veneração ao Supremo Senhor, respeitando as leis estabelecidas, louva-Lhe a misericórdia, exercendo a bondade sem limites e permanece em comunhão com Ele, não apenas através da prece meditada no silêncio da natureza, mas também pelo serviço constante ao próximo, no vasto caminho da multidão,onde se destacam enfermos e dementados, desditosos e aflitos de todas as procedências...

Em nossa adoração ao Divino Amigo, não nos esqueçamos do culto incessante ao dever.

Nossos compromissos corretamente solucionados, ainda e sempre, são a melhor forma de consagração do nosso respeito à Providência Divina.

Lembremo-nos de que nos Planos Superiores, Jesus não nos acolherá na condição de adornos preguiçosos.

Estimar-nos-á a cooperação,sem desejar-nos escravos e receber-nos-á o carinho, sem querer-nos inúteis.

E porque nos aguarda na condição de instrumentos vivos e diligentes do Infinito Amor, saibamos adorá-lo, adorando a Deus, cumprindo fielmente nossas pequeninas obrigações de cada dia, de vez que dever bem cumprido na Terra é degrau de ascensão para o Céu.


Do livro: Mais Perto. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

ACORDA E VIVE

                                                              EMMANUEL

Espiritualmente falando, a Terra, para os grandes seres que já se evangelizaram, oferece o espetáculo de berçário imenso onde o espírito humano continua dormindo na infantilidade que lhe caracteriza a evolução iniciante.

Os homens, quase todos, estáticos ou cristalizados na ignorância, imitam os sonâmbulos hipnotizados pelas próprias criações.

Aqui, alguém sonha ostentando ilusório manto de dominação, acolá, alguém passa, á maneira de autônomo infeliz, acreditando-se mendigo.

Além, um homem comum, que apenas consegue realizar magra refeição por dia, estabelece imensos monopólios de farinha ou de azeite, vitimado pela loucura de amontoar utilidades sem proveito justo; mais além, uma criatura vulgar, que somente vestirá um costume de cada vez, açambarca o mercado de algodão ou o comércio de lã, supondo-se capaz de consumir sozinho o suprimento destinado a milhões.

Há quem administre os bens públicos, julgando-se exclusivo senhor deles, e há quem desperdice as próprias forças, deliberadamente, presumindo na saúde um caminho para a própria destruição.

É por isso que quase todos, enquanto na Terra, centralizamos a atenção no próximo, olvidando a nós mesmos.

Quando nos desvencilhamos, porém, das teias da ociosidade mental que nos anestesia, observamos que a vida apenas pede visão, a fim de descerrar-nos o luminoso roteiro para os cimos que nos compete atingir e, então, se nos dispomos realmente a ver, identificamos em derredor de nós, a sementeira e a seara de luz, à espera de nosso esforço no bem para conferir-nos paz e sublimação.

Se a dor te visita, se a indagação te convoca ao conhecimento, se a curiosidade te convida à reforma íntima e se o mundo te solicita renovação, recorda que o Senhor terá reconhecido o teu amadurecimento para ávida que nunca morre e te procura ao necessário despertamento.

Acorda e vive para a realidade que nos rodeia.

Acorda e serve e servindo, encontrarás a ti mesmo em nível mais alto, entretecendo as próprias asas para o vôo excelso no rumo da imperecível libertação.


Do livro: Mais Perto. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A DÁDIVA DIFÍCIL

                                                                                                                       Emmanuel

Não avançarás ao longo do caminho, sem doar algo de ti mesmo.

Aqui, é o companheiro que te roga assistência fraterna.

Além, é o desconhecido que te pede arrimo e esperança.

Agora, é o amparo aos desvalidos.

Depois, é o socorro aos enfermos.

À maneira da embarcação que distribui os valores de que se enriquece, espalharás, seja onde fores, os bens que o Senhor te confia.

O pão, a moeda e o agasalho são recursos da Terra em tuas mãos.

Fácil será sempre mobilizá-los e estendê-los.

Atenta, contudo, para a dádiva difícil que sai do coração.

O próprio sacrifício, em favor dos outros, é plantação de felicidade no ambiente em que respiramos.

Aprende a calar para que teu irmão fale mais alto.

Esquece as ofensas alheias, compreendendo que poderiam ter sido perpetradas por ti próprio.

Apaga-te para que a luz do próximo seja vista.

Dá em ti mesmo em humildade, paciência, brandura, abnegação e amor...

Jesus, transmitindo as bênçãos do Céu de que se fazia portador, era o Médico Providencial dos sofredores na região em que se mantinha, mas aceitando o supremo sacrifício de si mesmo, na cruz, converteu-se em Divino Benfeitor da Humanidade inteira.

Não olvides que a renunciação aos próprios caprichos, na exaltação do bem de todos, será sempre no mundo a tua dádiva maior.

Livro: Mais Perto. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A CHAVE BENDITA

Efetivamente, muitos são os problemas que nos assediam a existência. Dificuldades que não se esperam, tribulações que nos espancam mentalmente, sofrimentos que se instalam conosco, sem que lhes possamos calcular a duração, desajustes que valem por dolorosos constrangimentos.
Se aspiras a obter solução adequada às provas que te firam, não te guies pela rota do desespero.
Tens contigo uma chave bendita - a chave da humildade, cunhada no metal puro da paciência.
Perante quaisquer tropeços da estrada, usa semelhante talento do espírito e alcançarás para logo a equação de harmonia e segurança a que pretendes chegar.
Nada perderás, deixando fale alguém com mais autoridade do que aquela de que porventura disponhas; nunca te diminuirás por desistir de uma contenda desnecessária; em coisa alguma te prejudicarás abraçando o silêncio diante de conceitos deprimentes que te sejam desfechados; não sofrerás prejuízo algum em te calando nessa ou naquela questão que diga respeito exclusivamente às tuas conveniências e interesses pessoais; grandes lucros no campo íntimo te advirão da serenidade ou da complacência com que aceites desprestígio ou preterição; jamais te arrependerás de abençoar ao invés de reclamar, ainda mesmo em ocorrências que te amarguem as horas; e a simpatia vibrará sempre em teu favor, toda vez que cedas de ti mesmo, em benefício dos outros.
Efetuemos os investimentos valiosos de paz e felicidade, suscetíveis de serem capitalizados por nós, através dos pequeninos gestos de tolerância e bondade e o esquema de trabalho, a que a vida nos indique, ganhará absoluta eficiência de execução.
Seja na vida particular ou portas adentro de casa, no grupo de serviço a que te vinculas ou na grande esfera social em que se te decorre a existência, sempre que te vejas à beira de ressentimento ou revide, rebeldia ou desânimo, nunca te entregues a semelhantes agentes destrutivos.
Tenta a humildade.

Do livro: Mais Perto. Emannuel e psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

ESPIRITISMO - DOUTRINA FILOSÓFICA DE VIDA E UMA NOVA FORMA DE RELIGAR O HOMEM A DEUS.

Novos tempos, ei-los aí chegados.
Forjados no ápice da vaidade e egoísmo humanos, nascidos da lama das guerras fratricidas do século passado, no rastro das revoluções de corações e mentes.
Novos tempos, sim.
Representados nas crianças que nascem sorrindo. Nos seres que vão embora dormindo.
Tempos que oferecem uma nova plantação aos semeadores.
Como disse Allan Kardec em O Que É o Espiritismo?, tempos em que a união de pensamentos em torno da solidariedade e fraternidade universais podem promover uma evolução moral dos indivíduos.
Eis o momento mágico em que a verdade dos espíritos bate em todas as portas.
Não como uma instituição, não como um dogma, muito menos uma religião tradicional.
Foi Kardec mesmo quem apressou-se a dizer que aquela doutrina que estava sendo decodificada no fervor científico do século XIX seria infinita e eterna.
Eterno espiritismo, mutável e progressista para se adequar à sociedade de todos os tempos, mas sempre ciência de observação, doutrina filosófica de vida e uma nova forma de religar o homem a Deus.
Consequências religiosas que nascem longe dos erros do passado com tantas e tantas lições expiatórias.
Eis o espiritismo, então, renovando o seu tempo, sem precisar ser o fim em si mesmo, mas apenas o meio.
E como o meio é a mensagem, ei-la propagada não através dos métodos tradicionais que outrora ergueram as bandeiras de verdades e mentiras incompletas.
Mas sim através dos homens e suas vidas transformadas.
O homem, o tempo, o espírito.
O verdadeiro espírita é aquele que pratica a reforma íntima e, então, ilumina o mundo ao seu redor. Não impõe sua crença. Não divide o mundo entre nós e eles. Vive de fé raciocinada. De amor e caridade. Impregna seu trabalho com essa verdade. E escreve as linhas da história do novo homem.
O desafio que se impõe é grande.
Eis a flotilha e os corajosos remadores que não conhecem o oceano à frente, mas são os pioneiros que anseiam por descobrir, no erro e no acerto, como será o mundo regenerado que bate à nossa porta.
Usam câmeras, microfones, palavras. Suor e lágrimas.
Antes de ser um audiovisual espírita que se forma e esbarra na fraqueza dos adjetivos limitadores, que seja então o espírita no audiovisual.
O espírita de verdade capaz de impregnar sua arte eterna, de navegar em todos os mares, de falar todas as línguas, contar todas as histórias, cantar todas as músicas e, enfim, imaginar e criar um mundo melhor dentro de si e à sua volta, anunciando-o então com humildade e alegria.
Que seja ele sempre uma semente diária na proclamação desses novos tempos, desta nova história cujo protagonista é um só.
Em nome de Deus.


Wagner Assis - diretor e roteirista do filme Nosso Lar

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O GRANDE PECADO

“Declarou, então, Jesus aos sacerdotes: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não lhe destes crédito, mas os publicanos e as meretrizes lho deram…” (Evangelho)

Como vemos, o intérprete da Soberana Justiça classifica a falta dos sacerdotes mais grave que as das meretrizes e os publicanos, sendo que estes, no exercício do fisco, furtavam os contribuintes exigindo maior imposto que o estabelecido na lei.
Mas, afinal, que espécie de delito praticavam os sacerdotes cuja gravidade o sábio Mestre reputa maior que o pecado das decaídas e dos publicanos?
A culpabilidade das meretrizes procede das fraquezas da carne. A ladroíce dos publicanos não deixa de ser, a seu turno, fruto da frouxidão de caráter, modalidade de fraqueza também; ao passo que o crime dos maus sacerdotes se funda na má-fé com que procedem, iludindo o povo cujos sentimentos religiosos exploram. Trata-se de um programa doloso concebido, planejado e posto em prática com sagacidade e perfídia. Eles mesmos, os sacerdotes, não acreditam no que dizem, agindo em desacordo com a própria consciência. As conseqüências do mal praticado pela casta sacerdotal assumem proporções muito mais extensas que aquelas derivadas da vida dissoluta das messalinas e da desonestidade dos publicanos. As infelizes decaídas suportam, desde logo, os efeitos dos excessos e desmandos a que se entregam, sendo, elas mesmas, as maiores vítimas; enquanto que a mentira religiosa espalhada e mantida pelos maus sacerdotes responde pela corrupção moral do povo, pela impostura e pelo regime de mistificações que se generaliza em todas as camadas sociais. O pecado, portanto, dos sacerdotes, a cuja responsabilidade se furtam no momento, é de efeitos mais prejudiciais e danosos que o dos publicanos e o das meretrizes. Estas exploram seu corpo; os publicanos exploram o cargo que ocupam, lesando materialmente os contribuintes, ao passo que os sacerdotes exploram o que há de mais sagrado e santo no homem: o sentimento religioso, nas relações entre a criatura e o Criador.

Tal é o delito contra o campo aberto à sementeira das eternas verdades reveladas do Céu através dos divinos mensageiros de Deus.

A insinceridade, o dolo no que respeita às questões espirituais – numa palavra – a hipocrisia – eis o Grande Pecado.

Autor: Pedro de Camargo – Pseudônimo de Vinícius
Livro: Na Seara do Mestre – Editora: FEB (Federação Espírita Brasileira) 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

QUANTO VALE UM MILAGRE?

Uma garotinha esperta, de apenas seis anos de idade, ouviu seus pais conversando sobre seu irmãozinho mais novo.
Tudo que ela sabia era que o menino estava muito doente e que estavam completamente sem dinheiro.
Iriam se mudar para um apartamento num subúrbio, no próximo mês, porque seu pai não tinha recursos para pagar as contas do médico e o aluguel do apartamento.
Somente uma intervenção cirúrgica muito cara poderia salvar o garoto, e não havia ninguém que pudesse emprestar-lhes dinheiro.
A menina ouviu seu pai dizer a sua mãe chorosa, com um sussurro desesperado: Somente um milagre poderá salvá-lo.
Ela foi ao seu quarto e puxou o vidro de gelatina de seu esconderijo, no armário. Despejou todo o dinheiro que tinha no chão e contou-o cuidadosamente, três vezes.
O total tinha que estar exato. Não havia margem de erro. Colocou as moedas de volta no vidro com cuidado e fechou a tampa. Saiu devagarzinho pela porta dos fundos e andou cinco quarteirões até chegar à farmácia.
Esperou pacientemente que o farmacêutico a visse e lhe desse atenção, mas ele estava muito ocupado no momento.
Ela, então, esfregou os pés no chão para fazer barulho, e nada! Limpou a garganta com o som mais alto que pôde, mas nem assim foi notada.
Por fim, pegou uma moeda e bateu no vidro da porta. Finalmente foi atendida!
O que você quer? Perguntou o farmacêutico com voz aborrecida. Estou conversando com meu irmão que chegou de Chicago e que não vejo há séculos, disse ele sem esperar resposta.
Bem, eu quero lhe falar sobre meu irmão. Respondeu a menina no mesmo tom aborrecido. Ele está realmente doente... E eu quero comprar um milagre.
Como? Balbuciou o farmacêutico admirado.
Ele se chama Andrew e está com alguma coisa muito ruim crescendo dentro de sua cabeça e papai disse que só um milagre poderá salvá-lo.
E é por isso que eu estou aqui. Então, quanto custa um milagre?
Não vendemos milagres aqui, garotinha. Desculpe, mas não posso ajudá-la. Respondeu o farmacêutico, com um tom mais suave.
Escute, eu tenho o dinheiro para pagar. Se não for suficiente, conseguirei o resto. Por favor, diga-me quanto custa. Insistiu a pequena.
O irmão do farmacêutico era um homem gentil. Deu um passo à frente e perguntou à garota: Que tipo de milagre seu irmão precisa?
Não sei. Respondeu ela, levantando os olhos para ele. Só sei que ele está muito mal e mamãe diz que precisa ser operado. Como papai não pode pagar, quero usar meu dinheiro.
Quanto você tem? Perguntou o homem de Chicago.
Um dólar e onze centavos. Respondeu a menina num sussurro. É tudo que tenho, mas posso conseguir mais se for preciso.
Puxa, que coincidência, sorriu o homem. Um dólar e onze centavos! Exatamente o preço de um milagre para irmãozinhos.
O homem pegou o dinheiro com uma mão e, dando a outra mão à menina, disse: Leve-me até sua casa. Quero ver seu irmão e conhecer seus pais. Quero ver se tenho o tipo de milagre que você precisa.
Aquele senhor gentil era um cirurgião, especializado em neurocirurgia.
A operação foi feita com sucesso e sem custo algum. Alguns meses depois, Andrew estava em casa novamente, recuperado.
A mãe e o pai comentavam alegremente sobre a sequência de acontecimentos ocorridos.

 A cirurgia, murmurou a mãe, foi um milagre real, gostaria de saber quanto deve ter custado.
A menina sorriu. 
Ela sabia exatamente quanto custa um milagre...
Um dólar e onze centavos...

Mais a fé de uma garotinha...



Desconhecemos autoria

domingo, 16 de fevereiro de 2014

MÁGOA SEM RAZÃO

Era uma vez um rapaz que ia muito mal na escola. Suas notas e seu comportamento eram uma decepção para seus pais que, como a maioria, sonhavam em vê-lo formado e bem sucedido.
Um belo dia, o pai lhe propôs um acordo: Se você, meu filho, mudar seu comportamento, se dedicar aos estudos e conseguir entrar para a Faculdade de Medicina, lhe darei um carro de presente.
Por causa do carro, o rapaz mudou totalmente de atitude. Passou a estudar como nunca e a se comportar muito bem.
O pai estava feliz, mas tinha uma preocupação: sabia que a mudança do rapaz não era fruto de uma conversão sincera, mas apenas pelo interesse em obter o automóvel, e isso era ruim!
Assim, o grande dia chegou. Fora aprovado para o Curso de Medicina. Como havia prometido, o pai convidou a família e os amigos para uma festa de comemoração.
O rapaz tinha por certo que na festa o pai lhe daria o automóvel.
Mas, quando pediu a palavra, o pai elogiou o resultado obtido pelo filho e lhe passou as mãos uma caixa de presente.
Crendo que ali estavam as chaves do carro, o rapaz abriu emocionado o pacote. Mas, para sua surpresa era uma Bíblia.
Visivelmente decepcionado, nada disse. E, a partir daquele dia, o silêncio e a distância separaram pai e filho.
O jovem se sentia traído e agora lutava para ser independente. Deixou a casa dos pais e foi morar no Campus da Universidade. Raramente mandava notícias para a família.
O tempo passou, ele se formou, conseguiu um emprego em um bom hospital e se esqueceu completamente do pai. Todas as tentativas do pai para reatar os laços afetivos foram em vão.
Os anos rolaram até que um dia o velho, muito triste com a situação, adoeceu, não resistiu e morreu.
No enterro, a mãe entregou ao filho indiferente, a Bíblia que tinha sido o último presente do pai e que havia sido deixada para trás.
De volta a sua casa o rapaz, que nunca perdoara o pai, ao colocar o livro numa estante notou que entre as suas páginas havia um envelope.
Abriu-o e encontrou uma carta. Dentro dela, um cheque. A carta dizia:
Meu querido filho, sei o quanto você deseja ter um carro. Eu prometi e aqui está o cheque para que você escolha aquele carro que mais lhe agradar.
No entanto, fiz questão de lhe dar um presente ainda melhor: a Bíblia, pois nela aprenderá o amor de Deus pelas Suas criaturas e a fazer o bem, não pelo prazer da recompensa, mas pela gratidão e pelo dever de consciência.
Corroído de remorso, o filho caiu em profundo pranto...

O perdão incondicional é uma das mais sublimes virtudes que os seres podem almejar.
Quem perdoa sempre, não corre o risco de se arrepender mais tarde por ter alimentado tanto tempo uma mágoa sem razão.
Por isso é que devemos ter sempre em mente a recomendação do Mestre Jesus: Perdoar setenta vezes sete, isto é, perdoar sempre.


Pense nisso!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

É SEMPRE POSSÍVEL ENCONTRAR O CAMINHO

Escuta, alma querida, quando a prova te alcança e o sofrimento te golpeia a vida, impondo-te cansaço e insegurança; quando a aflição te cerca e te subjuga, portas a dentro de teu próprio ser, sem apelos à fuga em que te possas esconder, indagas, quase sempre, de ânimo frustrado revelando revolta amarga e triste:
- Se Deus é amor eterno e ilimitado, por que razão a dor existe? Por que ao sonho se seguem, com freqüência, o fel, o desengano, a desventura que nos induzem a existência ao vasto espinheiral em que a nossa esperança se enclausura? E guardando-te, a sós, sob angústia mortal, certas vezes, de anseio em desalinho, quererias fugir de teu próprio caminho...
Entretanto, alma boa, se algo te feriu, não te agastes, perdoa...
E, sobretudo, raciocina que a dor lembra o esmeril da Lei Divina que, em nos tocando, nos aperfeiçoa.
Tudo o que te garante o próprio alento passou por disciplina e sofrimento sem que a ovelha aceitasse os golpes da tosquia, não teria a lã que te guarda o calor; sem que o minério padecesse um dia o fogo abrasador, não dispunhas da casa, em fina arquitetura, sobre vigas leais de sólida estrutura; sem árvores tombando, a rude corte, nas fruías na própria residência o ambiente ideal em que se te conforte a energia precisa às lutas da existência; a dentes de serrote, a natureza formou, em teu auxílio, o refúgio da mesa, e o trigo que passou pela trituração, em qualquer tempo, é a base de teu pão.
Não acuses a dor que te procura a fim de preparar-te a grandeza futura, Sem ela que nos frena e regenera, estaríamos nós, provavelmente, na condição da fera sob a selvageria permanente.
Por fim, alma querida, considera: de heróis que já tivemos, almas gigantes na sabedoria, corações a brilhar, nos ápices supremos da beleza imortal que se irradia dos tesouros do amor; de todos os apóstolos da história que apontaram a vida superior de que o mundo conserva algum indício, aquele que nos deu, constantemente, o sentido da dor por fonte renascente de ascensão e nobreza, vida e luz, com bases sobre o próprio sacrifício, esse herói foi Jesus.


(Maria Dolores – Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

NOSSA TERRA

Contemplando os quadros de miséria do nosso mundo, crianças que são pele e ossos, velhos que vivem desamparados, o desânimo nos chega.

Contemplando as multidões que passam parecendo sem rumo, desejando somente sobreviver a qualquer custo, somos tentados a pensar que este planeta é um verdadeiro vale de lágrimas, um lugar de exílio doloroso.

Sofremos, muitas vezes, por verificar a fragilidade da saúde humana e o trabalho dos anos no corpo físico. Anos que o vão tornando enfraquecido, mais enfermo, com maiores necessidades.

Tudo isso nos entristece. No entanto, se observarmos com mais cuidado perceberemos que o nosso mundo terreno não é somente miséria, fome, desamparo e flagelos.

O nosso planeta é um grande campo experimental, onde cada espírito que aqui vive tem por dever o aprimoramento de si mesmo e o compromisso de socorrer o seu semelhante.

Mas é também um local de muita beleza. A divindade se esmerou em cuidados para nos permitir gozar alegrias. Basta que olhemos e descobriremos as explosões de flores nos jardins, bosques e pradarias.

O tapete verde do pasto abundante se estendendo por montanhas, em tons que vão do claro ao escuro, como uma enorme colcha de retalhos estendida sobre a Terra.

O vento que nos acaricia os cabelos é aquele mesmo colaborador na reprodução das espécies floridas, carregando o pólen em seus braços, espalhando-o pelas campinas. Vento amigo que dedilha sinfonias nas cabeleiras das árvores para que possamos ouvir a voz da natureza.

É neste planeta abençoado que sentimos a garoa nos molhando o rosto. Observamos as chuvas fortes, os relâmpagos que traçam desenhos luminosos nos céus escuros.

É aqui que, nas noites quentes, o pirilampo fica piscando e de dia o Sol se apresenta com todo seu vigor.

É aqui que o filete d´agua pura desce a montanha e o mar se mostra exuberante.

É na Terra que encontramos as borboletas coloridas dançando no ar e os pássaros cantantes que enchem os nossos ouvidos de sons. A erva rasteira e a árvore gigantesca, que desafia os séculos.

Tudo nos fala do amor de Deus em todos os setores da vida no mundo.

Nosso mundo é uma sublimada escola. Busquemos assimilar as mais importantes lições que nos farão alcançar o esperado progresso.

Não o condenemos. Nem nos entristeçamos. Consideremos todas as possibilidades de beleza e som que o planeta nos concede a fim de que nos renovemos e nos iluminemos.

Valorizemos nosso mundo e cuidemos de tudo que nos rodeia: animais, vegetais e nossos irmãos em humanidade.

Do livro "Para uso diário".

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

EM PRECE

Um ano depois do casamento de Antonina, dirigimo-nos todos juntos à residência do ferroviário, na qual tantas vezes nos reuníramos entre a prece e a expectação.
A vida marchara como sempre...
Júlio e Leonardo haviam renascido em paz, quase que ao mesmo tempo, trazendo ao mundo elevados programas de serviço. Recém-chegados àTerra, sorriam ingênuamente para nós, aconchegados ao colo materno.
Amaro e Zulmira, Silva e Antonina, cônscios das obrigações que haviam assumido, prosseguiam juntos, entrelaçados na mesma compreensão fra­ternal.
O singelo domicílio mostrava-se magnificamen­te florido, superlotado de amigos sorridentes.
Lucas e Evelina celebravam os esponsais.
Nos dois planos, entre encarnados e desencar­nados, tudo era esperança e alegria, paz e amor.
Os noivos fitavam-se venturosos e Odila, na função de sacerdotisa do lar, ia e vinha, pondo e dispondo na direção do acontecimento.
Entardecia, quando o juiz, com a felicidade de todos, lido o contrato de matrimônio, pronunciou o clássico «declaro-vos casados em nome da Lei.
Oscularam-se os nubentes com inexcedível afe­to e vimos espantados que Odila, em muda oração, se transfigurava, coroando-se de luz. Desvelou os olhos que se nos afiguraram mais lúcidos e con­templou a filha, embevecidamente.
Obedecendo, porém, a secreto impulso, ao in­vés de caminhar na direção de Evelina, dirigiu-se para Zulmira, enlaçando-a em lágrimas.
Havia naquele gesto tanto carinho natural e tanto reconhecimento espontâneo, que intensa emo­tividade nos tomou de assalto. Transfundiam-se ali dois corações maternos, na mesma vibração de paz, haurida na vitória interior pelo dever bem cumprido.
Envolta na faixa de ternura em que se via mergulhada, a segunda esposa de Amaro começou a chorar, possuida de inexprimível contentamento, como se inarticulada melodia do Céu lhe invadisse, por inteiro, o coração.
Ali mesmo, homem tocado de fé viva, o dono da casa rogou a Antonina pronunciasse o agrade­cimento a Jesus.
A esposa de Silva não vacilou.
Cerrando as pálpebras, parecia procurar-nos em espirito, qual antena vibrátil, atraindo a onda sonora.
Clarêncio abeirou-se dela e, tocando-lhe a fron­te com a destra, entrou em meditação.
Suavemente impulsionada pelo Ministro, nossa amiga orou com sentida inflexão de voz:
Amado Jesus, abençoa a nossa hora fes­tiva que te oferecemos em sinal de carinho e gratidão.
Ajuda aos nossos companheiros que hoje se consorciam, convertendo-Lhes a esperança em doce realidade.
Ensina-nos, Senhor, a receber no lar a cartilha de luz que nos deste no mundo —generosa escola de nossos corações para a vida imortal.
Faze-nos compreender, no campo em que lutamos, a rica sementeira de renovação e fra­ternidade em que a todos nos cabe aprender e servir.
Que possamos, enfim, ser mais irmãos uns dos outros, no cultivo da paz, pelo esforço no bem.
Tu que consagraste a ventura doméstica, nas bodas de Caná, transforma a água viva de nossos sentimentos em dons inefáveis de trabalho e alegria.
Reflete o teu amor na simplicidade de nossa existência, como o Sol se retrata no fio dágua humilde.
Guia-nos, Mestre, para o teu coração que anelamos eterno e soberano sobre os nossos destinos, e que a tua bondade comande a nos­sa vida é o nosso voto ardente, agora e para sempre. Assim seja.
Calara-se Antonina.
Doce exaltação emotiva pairava em todos os semblantes.
Odila, sensibilizada, reunia Amaro e Zulmira nos braços, quais se lhe fossem filhos do coração.
Fitei a esposa de Silva, de quem o Ministro se afastara, e lembrei a noite em que lhe visitei o domicílio pela primeira vez.
Nunca me esqueci da excursão em que fomos designados para acompanhá-la em visitação ao fi­lhinho, quando ignorávamos totalmente a importân­cia de sua participação no drama que iríamos viver.
Dirigi-me ao instrutor e indaguei se ele, Cla­rêncio, conhecia a posição de nossa amiga, ao tempo de nosso primeiro contacto.
— Sim, sim... — respondeu, gentil —, mas não lhes dei a conhecer antecipadamente a significação dela no romance vivo que estamos acompa­nhando, porque todos nós, meu amigo, precisamos reconhecer que o trabalho é a nossa lição. Mova­mos a mente no serviço que nos compete e adqui­riremos a chave de todos os enigmas.
O apontamento era dos mais expressivos, mas não pude delongar a conversação, de vez que Irmã Clara, agora abraçada a Odila, convidava-nos ao regresso.
Entre adeuses cariciosos, Lucas e Evelina ha­viam tomado o auto que os conduziria a experiências novas na capital bandeirante.
A festa alcançara o fim...
Ao lado de nosso orientador, perguntei, reve­rente:
— Nossa história terminará, assim, com um casamento risonho, à moda de um filme bem acabado?
Clarêncio estampou o sorriso de sua velha sa­bedoria e falou:
— Não, André. A história não acabou, O que passou foi a crise que nos ofereceu motivo a tantas lições. Nossos amigos, pelo esforço admirável com que se dedicaram ao reajuste, dispôem agora de alguns anos de paz relativa, nos quais poderão re­plantar o campo do destino. Entretanto, mais tar­de, voltarão por aqui a dor e a prova, a enfermi­dade e a morte, conferindo o aproveitamento de cada um. É a luta aperfeiçoando a vida, até que a nossa vida se harmonize, sem luta, com os Desíg­nios do Senhor.
O Ministro não logrou prosseguir.
Nossa caravana, constituída por dezenas de companheiros, iniciara a volta.
A viagem, diante do firmamento que acendia flamejantes lumes, não podia ser mais bela...
Chegados, porém, ao Lar da Bênção, notamos que Odila chorava copiosamente.
Aquela alma varonil de mulher vencera a ba­talha consigo mesma, no entanto, não parecia satisfeita com o próprio triunfo. Clara conseguira-lhe brilhante posição de trabalho nas esferas mais altas, contudo, nossa heroína revelava-se em penosa consternação.
Penetrando o santuário de Blandina, onde tan­tas vezes nos reuníramos para examinar os proble­mas que nos afligiam de perto, o Ministro abraçou-a e recomendou, paternal:
— Odila, enquanto celebramos tua vitória, dize que céu procuras!
Ela caminhou para Irmã Clara e osculou-lhe a destra, num gesto mudo de reconhecimento e, depois, voltando-se para o nosso instrutor, respon­deu com humildade:
— Devotado benfeitor, meu lar terrestre é o meu paraíso...
— Mas não ignoras que o domicílio do mundo não te pertence mais.
— Sim — concordou a interlocutora, respei­tosa —, sei disso, entretanto, desejo servir a ele, sem que ele seja meu... Amo meu esposo por ines­quecível companheiro da vida eterna, abençoando a admirável mulher a quem ele agora pertence e que passei a querer por filha de minha ternura... Amo meus filhos, apesar de saber que não podem presentemente sentir o calor de meu coração... Deus sabe que hoje amo sem o propósito de ser amada, que me proponho oferecer-me sem retri­buição, a fim de aprender com Jesus a dar sem receber...
A emoção embargou-lhe a voz.
De nosso lado, tínhamos nossos olhos mareja­dos de pranto.
Visivelmente comovido, Clarêncio levantou-lhe a fronte submissa, afagou-lhe os cabelos e, colo­cando-lhe uma flor de luz sobre o peito, exclamou:
— Onde permanece o nosso amor, aí fulgura o céu que sonhamos. Mereces o paraíso que pro­curas. Retorna, Odila, ao teu lar quando quiseres. Sê para o teu esposo e para as almas que o seguem o astro de cada noite e a bênção de cada dia! O amor puro outorga-te esse direito. Volta e ama... E, quando te ergueres do vale humano, teu coração será como faixa de sol, trazendo ao Cristo os co­rações que pastorearás no campo imenso da vida!
Odila ajoelhou-se e beijou-lhe as mãos vene­ráveis.
Nesse instante, funda saudade assomou-me à alma opressa.
Experimentei a estranha sensação do pai que busca inutilmente os filhos arrebatados ao seu carinho. Ave distante da paisagem que a vira nascer, vi-me atormentado pelo anseio de recuperar, de imediato, o meu ninho...
Lágrimas quentes derramavam-se de meu co­ração pela concha dos olhos e, temendo perturbar a harmonia reinante, demandei o jardim próximo e, sózinho, fitei o firmamento, pintalgado de es­trelas...
O vento que soprava célere parecia dizer-me:
— «Confia!...» O perfume das flores, de passa­gem por mim, apelava em silêncio: — “Não te detenhas!” E as constelações faiscantes, pendendo da Altura, davam-me a impressão de acenos da luz eterna, concitando-me sem palavras: — «Luta e aperfeiçoa-te! A plenitude do teu amor brilhará também um dia!... »
Então, numa prece de agradecimento ao Pai Celestial, percebi que meu espírito pacificado sorria, de novo, ao toque inefável de sublime espe­rança.

Fim


Do livro "ENTRE A TERRA E O CÉU", pelo espírito André Luiz - psicografia de Chico Xavier.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

EM ALGUM LUGAR


Agora, neste exato momento:
Um recém-nascido acabou de respirar pela primeira vez.
Dois adolescentes apaixonados deram seu primeiro beijo.
Alguém está dirigindo com a janela do carro aberta e cantando alto sua música favorita.
Voluntários em diferentes cidades estão ajudando os menos favorecidos e os negligenciados que precisam de alguém que fale por eles.
Alguém está cumprimentando um desconhecido que precisava desesperadamente de um motivo para sorrir.
Dois colegas de trabalho estão rindo tanto um do outro que até perderam o fôlego.
Um orientador do colégio está dedicando seu tempo ouvindo atentamente e encorajando um aluno a perceber sua paixão e habilidade.
Milhares de pessoas estão andando de mãos dadas com quem amam.
Um casal que estava afundando em dívidas dez anos atrás está olhando orgulhosamente para suas contas hoje e vendo o saldo positivo.
Uma pessoa vai fazer hora extra hoje para tornar a vida de alguém um pouco mais fácil.
Pessoas em todo o mundo estão online em sites fazendo doações para ajudar desconhecidos em necessidade ou em seus projetos.
Motoristas responsáveis estão deixando seus amigos em casa, com segurança.
Um estudante dedicou seu tempo voluntariamente para ajudar seu colega em uma matéria.
Alguém que tem lutado com seu peso por anos está olhando para a balança e sorrindo.
Um alcoólatra acabou de celebrar seu primeiro ano sóbrio.
Em algum lugar alguém está admirando um nascer do sol de tirar o fôlego e, em outro lugar, outra pessoa está admirando um pôr do sol surreal.
Alguém está ajudando um amigo a superar sentimentos de depressão e suicídio.
Alguém está segurando a porta para outra pessoa passar.
Um bom samaritano parou na estrada para ajudar alguém que está tendo problemas com o carro.
Uma pessoa está comemorando o fato de que ela acabou de quebrar seu próprio recorde pessoal.
Um soldado em missão longe de casa acabou de receber um e-mail de um ente querido.
Os sócios de uma empresa recém-criada estão comemorando seu primeiro cliente.
Alguém ouviu acidentalmente uma pessoa dizer algo agradável sobre ela.
Um cirurgião na sala de emergência acabou de salvar a vida de seu paciente.
Dois melhores amigos estão se abraçando após muito tempo sem se verem.
Alguém acabou de sair de uma entrevista de emprego na empresa de seus sonhos e está sorrindo feito bobo.
Alguém que sofreu um ferimento grave há algum tempo está de volta à ativa.
Os maiores inventores, artistas e empreendedores da próxima geração estão trabalhando diligentemente para aperfeiçoar suas ideias revolucionárias e formas de trabalho.
Alguém está sentado calmamente e sorrindo pelo fato de que não há outro lugar no mundo em que ele(a) gostaria de estar agora.
Em algum lugar na internet alguém está escrevendo um comentário encorajador num post de blog que fará outras pessoas sorrirem.
Há realmente uma beleza a ser vista em todas as direções imagináveis se você estiver disposto a ver e ajudar a criar.
Sua vez…



Autor: Desconhecido

PONDERAÇÕES

Decorrido um mês sobre os esponsais de Silva, certa noite, por solicitação de Odila, fomos em busca de Zulmira e Antonina para uma reunião íntima, no Lar da Bênção.
Ambas, alegres, revelavam-se enlevadas fora do corpo denso.
Enlaçadas e felizes, contemplavam a Terra e o Céu, tocadas de sublime esperança.
Reduzida assembleia de amigos aguardava-nos no domicílio de Blandina, em meio de cativantes manifestações de carinho e de apreço.
Dentre todas as afeições presentes, sobreleva­va-se Irmã Clara, que viera igualmente ter conosco.
As duas excursionistas, ao contacto daquele ambiente de genuína fraternidade, rendiam-se ao êxtase da paz e da alegria.
Afigurava-se-lhes haver encontrado o paraíso, tão pura se lhes desenhava no semblante a exal­tação interior.
No recinto amplo que Blandina adornara de flores, permutavam-se frases amigas e consolado­ras impressões.
Multiplicadas notas de beleza enriqueciam a conversação, quando Antonina, mais lúcida que a companheira, indagou pela razão do favor de que se viam aquinhoadas.
O reconhecimento transbordava-lhes do cora­ção, à maneira do perfume a evadir-se do frasco.
Clara afagou-a, de leve, e explicou, maternalmente:
— Filhas, em nossa romagem na vida, atra­vessamos épocas de sementeira e fases de colheita.
Na missão da mulher, até agora, vocês receberam do tempo os choques e os enigmas plantados à dis­tância. Com a humildade e a fé, com o bom âni­mo e o valor moral, venceram árduos conflitos que lhes fustigavam as melhores aspirações. Foram dias obscuros do pretérito refletidos no presente, contu­do, agora, asserenou-se-lhes a estrada. A paciên­cia a que se devotaram evitou a formação de nuvens da revolta e o céu se fêz, de novo, claro e alen­tador. É como se o dia renascesse, resplendente de luz, o campo da existência exige mais trabalho e o tempo de semear ressurge alvissareiro.
A palestra em torno cessara de repente.
Os circunstantes buscavam ouvir a benfeitora, significando, com o silêncio, que nela se encarnava para nós a sabedoria.
Depois de ligeiro intervalo, nossa amiga con­tinuou:
— Agora, que a oportunidade favorece a re­novação, é preciso saber reconstruir o destino.
Não olvidemos. A vida reduz-se a triste montão de tre­vas, quando não se faz plena de trabalho. Fujamos à velha feira da lamentação onde a inércia vende os seus frutos amargosos! Para levantar, porém, a escada de nossa ascensão, é imprescindível ba­nhar o espírito, cada dia, na fonte viva do amor, do amor que recompensa a si mesmo com a ale­gria de dar! O Pai Celeste é onipresente, através do amor de que satura o Universo. O sentimento divino é a corrente invisível em que se equilibram os mundos e os seres. Do Trono Excelso nasce o eterno manancial que sustenta o anjo na altura e alimenta o verme no abismo. A mulher é uma taça em que o Todo-Sábio deita a água milagrosa do amor com mais intensidade, para que a vida se engrandeça. Irmãs, sejamos fiéis ao mandato recebido. Em muitas ocasiões, quando nos prende­mos à lama do egoísmo ou ao visco do ódio, po­luímos o líquido sagrado, transformando-o em ve­neno destruidor.
Guardemos cautela, O preço da verdadeira paz reside no sacrifício de nossas exis­tências. Não há sublimação sem renúncia no caste­lo da alma, como não há purificação no cadinho, sem o concurso do fogo que acrisola os metais!...
Clara fitou Antonina, de modo particular, e aduziu:
— Filha, nossa Zulmira compreende hoje, sem necessidade de maior incursão no passado, o santo dever de asilar o pequeno Júlio no santuário ma­terno. -.
Percebemos que a instrutora, registrando o im­perativo do descanso mental para a segunda esposa do ferroviário, que vinha de terminar longas re­fregas na preservação da própria saúde, buscava poupar-lhe exercícios mnemônicos.
— Nossa amiga — prosseguiu, indicando Zul­mira com o olhar — está consciente de que a ma­ternidade a espera de novo, em tempo breve... E você?
Com a irradiante bondade que habitualmente lhe marcava a expressão fisionômica, acentuou:
— Recorda-se das experiências antigas e per­manece atenta às razões que lhe inspiraram o segundo matrimônio?
Ante a surpresa que se estampou no semblante da interpelada, a orientadora, num gesto que nos era conhecido, nas operações magnéticas de Cla­rêncio, acariciou-lhe a fronte, de leve, e repetiu:
— Lembre-se! lembre-se!...
Bafejada pelo poder de Irmã Clara, em deter­minados centros da memória, Antonina fêz-se pá­lida e exclamou, controlando a própria emoção:
— Sim, sou eu a cantora! Revejo, dentro de mim, os quadros que se foram!... Os conflitos no Paraguai!... Uma chácara em Luque!... a família ao abandono!... José Esteves, hoje Mário... Sim, percebo o sentido de minhas segundas núpcias!...
Denotando aflição no olhar, acrescentou:
— E Leonardo? onde está Leonardo, o infeliz?
— Não precisa dilatar reminiscências — disse Clara, bondosa —; não nos achamos num gabinete de experimentos e sim numa reunião fraternal.
Fitando-a significativamente, ajuntou:
— Basta que você se recorde.
Em seguida, repartindo a atenção entre as duas, prosseguiu:
— Brevemente, vocês serão chamadas a novo esforço, no apostolado materno. Zulmira recolherá o nosso Júlio na concha do coração e você, Antonina, restituirá a Leonardo Pires, seu avô e asso­ciado de destino, o tesouro do corpo terrestre. No santuário doméstico, as afeições transviadas se re­compõem, a fim de que possamos demandar o futuro, ao clarão da felicidade.
Filhas, ninguém avança sem saldar as próprias contas com o pas­sado. Paguemos, desse modo, os débitos que nos aprisionam aos círculos inferiores da vida, aprovei­tando o tempo de detenção no resgate, em maior aprimoramento de nós mesmas. Amemos, aperfei­çoando-nos!
Identifiquemos no lar humano o cami­nho de nossa regeneração! A família consanguínea na Terra é o microcosmo de obrigações salvadoras em que nos habilitamos para o serviço à família maior que se constitui da Humanidade inteira, O parente necessitado de tolerância e carinho representa o ponto difícil que nos cabe vencer, valen­do-nos dele para melhorar-nos em humildade e compreensão. Um pai incompreensivo, um esposo áspero ou um filho de condução inquietante, sim­bolizam linhas de luta benéfica, em que podemos exercitar a paciência, a doçura e o devotamento até ao sacrifício!... Especialmente, no tocante aos filhos, não nos esqueçamos de que pertencem a Deus e à vida, acima de tudo!... Na esfera carnal, a Providência Divina nos sela a memória, no favor do renascimento, envolvendo-nos com o sopro re­novador de abençoada esperança! Por isso mesmo, não nos cabe olvidar que os filhos são sempre la­ços preciosos da existência, requisitando-nos equi­líbrio e discernimento em todas as decisões... Para desobrigar-nos da grande tarefa que a maternidade nos impõe, é imprescindível entender-lhes o psi­quismo diferente do nosso, a exigir, muitas vezes um tipo de felicidade que não se harmoniza com o nosso modo de ser. Saibamos, assim, prepará-los, sem egoísmo, para o destino que lhes compete! O carinho escravizante assemelha-se a um mel en­venenado, enredando-nos na sombra. Conservemos nosso espírito arejado pela justiça, para que a nos­sa afetividade seja uma bênção com a possibilidade de educar os que nos cercam, na escola do trabalho salutar!...
Na pausa que surgiu, espontânea, Zulmira in­dagou com simplicidade:
— Abnegada benfeitora, como agir para solu­cionar os problemas com segurança?
— Vocês superaram dias alarmantes de crise espiritual — informou a orientadora, prestimosa— e conquistaram o ensejo de reestruturação do próprio destino. Agora, repitamos, é tempo de se­mear. Valorizemos a oportunidade de reaproxima­ção. São vocês dois núcleos de força, suscetíveis de operar valiosas transformações nos grupos do­mésticos a que se ajustam. Façamos da amizade o entendimento fraterno que tudo compreende e tolera, movimenta e ajuda, na extensão do Sumo Bem. A vizinhança e a convivência, no fundo, são dons que o Senhor nos concede a benefício de nosso próprio reajuste.
Porque Zulmira e Antonina ensaiassem per­guntas novas, Clara acentuou:
— Não temam. A prece é o fio invisível de nossa comunhão com o Plano Divino e, à luz da oração, viveremos todos juntos. Em todas as dú­vidas, prefiramos para nós a renunciação construtiva. Situar a responsabilidade de nosso lado é facilitar a solução dos problemas.
Sorridente, rematou:
— Não nos esqueçamos do privilégio de servir.

 Logo após, o pequeno Júlio foi trazido ao recinto por vasto cortejo de gárrulas crianças.
Risos e lágrimas se misturaram no louvor à Bondade Divina.
Depois de algumas horas consagradas ao re­conforto, escoltamos, de novo, as duas mães, recon­duzindo-as ao corpo físico para o sublime labor no lar terrestre.



Do livro "ENTRE A TERRA E O CÉU", pelo espírito André Luiz - psicografia de Chico Xavier.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

RESPONSABILIDADE


A vida na Terra é repleta de percalços.
Ninguém passa a existência sem enfrentar desafios.
Os obstáculos destinam-se a fortalecer o homem, a testar a firmeza de seu caráter e a torná-lo melhor.
Nessa linha, problemas não são desgraças, mas lições.
A criatura deve mobilizar suas forças íntimas para superar as dificuldades com que se defronta.
A ninguém é lícito assumir atitude derrotista, desistindo previamente da luta.
Como o homem foi contemplado com o dom da inteligência, deve utilizá-lo para viver cada vez melhor.
Esse viver melhor não se refere a aspectos materiais.
A plenitude do viver constitui um conceito amplo, que engloba a consciência tranquila pelo dever bem cumprido.
Assim, é importante cada qual analisar sua própria vida.
Identificar suas dificuldades, materiais e morais, e assumir a responsabilidade por elas.
O homem necessita amadurecer para não atribuir a terceiros o ônus de resolver os seus problemas.
Demonstra infantilidade quem pretende que os outros sejam a causa de sua infelicidade.
É preciso cessar de culpar o governo, os pais, o chefe, os vizinhos ou a quem quer que seja.
Cada qual recebe da vida exatamente a tarefa necessária ao seu crescimento.
Como os homens são diferentes, os problemas que enfrentam também o são.
Na jornada pela eternidade, cada Espírito tem o que trabalhar em si.
Um necessita fortificar sua vontade na luta constante com dificuldades materiais.
Outro precisa desenvolver a paciência, perante familiares de difícil trato.
Um terceiro é carente de sensibilidade e vive às voltas com dores e enfermidades.
Há ainda quem deve resistir à tentação do orgulho e da vaidade e nasce em meio a riquezas.
A vida na Terra é uma escola.
Cada homem está às voltas com a sua lição.
Seu papel é mostrar-se digno e vigoroso em sua luta, e também auxiliar o próximo, pois todos são companheiros na jornada evolutiva.
Assim, não ceda à tentação de responsabilizar os outros pelo que lhe acontece.
Não imagine que alguém tem o dever de resgatá-lo de suas dificuldades.
Certamente a solidariedade é uma lei da vida.
Contudo, também a responsabilidade pelo próprio viver constitui uma regra a ser observada.
Seja vigoroso e determinado.
Trabalhe, estude, seja valente.
Cesse as lamentações e mobilize suas forças para atingir suas metas.
Não espere que ninguém faça sua tarefa.
Identifique e dome suas más inclinações.
Visualize a pessoa que você quer ser e faça o que estiver ao seu alcance para se tornar assim.
Mas preserve sua dignidade, pois de nada adianta uma falsa vitória.
Mais importante do que resultados materiais é a conquista e a preservação da nobreza de seu caráter.
Certas dificuldades são inevitáveis, mas você decide como se comportar perante elas.
Em qualquer circunstância, mire-se nos exemplos do Cristo.
O Mestre não desdenhou o trabalho duro, as viagens constantes com o sol a pino.
Conviveu com a ignorância e a beligerância, disciplinou almas rudes.
Enfrentou a dor e a morte, mas a tudo venceu.
Corajoso e amoroso, Jesus fez o convite: "Quem desejar, deve tomar sua cruz e seguir-Me".
A cruz representa as dificuldades que todo homem deve superar, preservando sua fidelidade a Deus.

Pense nisso.



Momento Espírita

CASAMENTO FELIZ

A tempestade de sentimentos, no grupo de almas sob nossa observação, amainou, pouco a pouco...
Júlio, na vida espiritual, aguardava sem so­frimento a ocasião oportuna de regresso ao campo físico, e Zulmira, sob a influência benéfica de An­tonina, renovara-se para a alegria de viver.
Mário Silva, transformado pela orientação da jovem viúva, afeiçoara-se a ela profundamente, ha­bituando-se-lhe ao convívio.
Sólida amizade fizera-se entre as personagens de nossa história.
Semanalmente se visitavam, com intraduzível contentamento para Evelina, que se convertera em pupila de Antonina, tão grande a afinidade que lhes caracterizava as predileções e tendências.
O templo doméstico de Amaro transfigurara-se.
O otimismo infiltrara-se, ali, consolidando mo­radia nos corações.
Passeios domingueiros começavam a surgir, e Silva, agora unido a todos, parecia voltar à juventude nascente.
A camaradagem social modificara-lhe a feição.
Perdera a taciturnidade em que se mergulha a maioria dos solteirões.
Lisbela apegara-se a ele com extremado cari­nho e os irmãos Haroldo e Henrique dele fizeram o confidente de todas as realizações infantis.
Várias vezes Amaro e a esposa acompanharam com amoroso respeito o culto evangélico na resi­dência de Antonina, retirando-se, edificados e fe­lizes. Aquela moça, viúva e digna, cada vez crescia mais na admiração deles e, dentro de suas limi­tadas possibilidades, o ferroviário começou a fazer pela educação inicial dos meninos quanto lhe era possível, associando o enfermeiro em todos os seus empreendimentos em semelhante direção.
Certa manhã de claro domingo, achávamo-nos de passagem no domicílio de Amaro, ainda em ser­viço da saúde de Zulmira, quando Silva veio ao encontro do amigo para aguardar a chegada de Antonina com as crianças. Todo o grupo familiar combinara um almoço, ao ar livre, em parque pró­ximo.
O Ministro, manifestando um olhar de satis­fação, comentou:
— Graças a Jesus, vemos nosso enfermeiro efetivamente modificado. Mais alegre, acessível, bem disposto...
— Dir-se-ia que uma revolução explodiu den­tro dele — asseverei, concordando.
— O amor é assim — acentuou nosso instru­tor, imperturbável —, uma força que transforma o destino.
Talvez porque Hilário ensaiasse malicioso sor­riso, o orientador acrescentou:
— Pude consultar o programa traçado para a reencarnação de Antonina, quando em nossas atividades de socorro ao irmão Leonardo Pires, e sei que ela se comprometeu a colaborar, maternalmente, para que ele obtenha novo corpo na Terra. Na condição de Lola Ibarruri, foi a causa do enve­nenamento que lhe exterminou a paz íntima, falta essa que nossa irmã, na atualidade, espera ressar­cir. Acariciará por filho do coração quem lhe foi outrora companheiro de aventuras, encaminhando-lhe a educação de ordem superior...
O apontamento nos comovia.
Admirado, Hilário obtemperou:
— Silva, desse modo...
Clarêncio, contudo, interrompeu-lhe a frase, completando:
— Silva e Leonardo enlaçaram-se em compli­cadas dívidas um para com o outro. Desde muito tempo, cultivam o espinheiro da aversão recíproca. Induzidos agora às teias da consangüinidade, espe­ramos se reeduquem. Da Lei ninguém foge...
Como se a mente do ferroviário nos sorvesse a conversação, ligando-se a nós pelos fios invisíveis do pensamento, vimos Amaro bater, de leve, nos ombros do companheiro, dizendo-lhe, conselheiral:
— Escuta, Mário. Não me assiste o direito de qualquer interferência em tua vida, entretanto, sen­tindo-te por meu irmão, venho refletindo acerca do futuro... Não te parece que Antonina seja a mu­lher digna do teu ideal de homem de bem?
O interpelado corou, encabulando-se, e porque nada respondesse, o amigo prosseguiu:
— Desde o teu regresso à nossa amizade, ob­servo com respeito crescente a distinção dessa mu­lher, cuja aproximação tem sido uma bênção em nossa casa. Moça ainda, pode fazer a felicidade de um lar que seria um santuário para as tuas expe­riências. Comove-me anotar-lhe os sacrifícios de mãe jovem, quando, com a tua aliança, preservaria a própria saúde, indiscutivelmente tão preciosa a tanta gente. Já me inteirei da posição dela na fá­brica em que trabalha. É querida de todos. Para muitas colegas, tem sido a enfermeira e a irmã abnegada de sempre. Seus chefes veneram-lhe a conduta irrepreensível. Isso é admirável numa viú­va de apenas trinta e dois anos.
Além disso, repa­ro-lhe os filhinhos unidos ao teu coração, como se te pertencessem. Não te dói vê-la enfrentar sózinha
 a batalha em que se consome?
O enfermeiro, algo refeito da estupefação que lhe assomara do íntimo, replicou, humilde:
— Compreendo... Tenho examinado essa pos­sibilidade, no entanto, não sou mais uma criança...
— Por isso mesmo — revidou o amigo, enco­rajado — a hora presente exige método, reconforto, proteção... Um pouso doméstico é investi­mento dos mais preciosos para o futuro.
— No entanto, considero que o coração no meu peito assemelha-se a um pássaro entorpecido. Sin­to-me francamente incapaz de uma paixão...
— Que tolice! — ajuntou o interlocutor, bem humorado — a felicidade é quase impraticável nas afeições impulsivas que estouram do sentimento à maneira de champanha ilusória...
E, sorrindo, acentuou:
— O amor dos namorados, com noventa graus à sombra, por vezes é simples fogo de palha, dei­xando apenas cinza. À medida que se me alonga a experiência no tempo, reconheço que o matrimô­nio, acima de tudo, é união de alma com alma. Falo com o discernimento do homem que se con­sorciou por duas vezes. A paixão, meu caro, é res­ponsável por todas as casas de boneca que ofere­cem por aí espetáculos dos mais tristes. A amizade pura é a verdadeira garantia da ventura conjugal. Sem os alicerces da comunhão fraterna e do res­peito mútuo, o casamento cedo se transforma em pesada algema de forçados do cárcere social.
Mário ouvia as reflexões do companheiro, entre enlevado e surpreso.
Sim, pensava, desde que se aproximara de An­tonina, pela primeira vez, nela sentira a mulher ideal, capaz de entender-lhe o coração.
Devotara-se a ela e aos três pequeninos com imenso carinho e inexcedível confiança.
Aquele lar generoso e singelo incorporara-se-lhe à existência.
Se fosse compelido à separação, por qualquer circunstância, indubitavelmente se sentiria lesado em suas mais caras alegrias...
Enquanto Amaro se confiava às considera­ções do minuto rápido, Silva ia memorando, memorando...
A figura de Antonina penetrava-lhe agora os recessos do coração. O valor e a humildade com que a nobre criatura afrontava os mais difíceis pro­blemas tocavam-lhe as fibras recônditas do ser.
O sacrifício permanente pelos filhos, realizado com sincera alegria, o desprendimento natural das futi­lidades que costumam cegar o sentimento feminino, a solidariedade humana com que sabia pautar as relações com o próximo e, sobretudo, o caráter cristalino de que dava provas em todos os lances da vida comum, apareciam, naquele instante, em sua imaginação, de modo diferente...
Absorto, parecia contemplar as roseiras lá fora, indiferente ao mundo exterior.
Longos momentos passou, assim, revivendo e meditando o passado.
Em seguida, como se despertasse de longa fuga mental, encarou o amigo frente a frente e con­cordou:
— Amaro, tens razão. Não posso desobedecer ao comando da vida.
Não puderam, contudo, prosseguir.
A viúva e os filhinhos chegaram, felizes, pro­vocando a presença de Zulmira e Evelina que vieram à recepção, alegremente.
Deixamos nossos amigos na doce algazarra da intimidade doméstica e voltamos ao nosso templo de serviço.
Muitas indagações assaltavam-nos o pensamen­to, todavia, Clarêncio limitou-se a dizer:
— O tempo é como a onda. Flui e reflui. Da nossa sementeira havemos de colher.
Transcorridos alguns dias, amigos espirituais de Antonina trouxeram-nos as boas novas do con­trato promissor.
Mário e a jovem viúva esperavam efetuar o matrimônio em breves dias.
Visitamos o futuro casal, diversas vezes, antes do enlace, que todos nós aguardávamos, contentes.
Amaro e Zulmira, reconhecidos aos gestos de amizade e carinho que recebiam constantemente dos noivos, ofereceram o lar para a cerimônia que, no dia marcado, se realizou com o ato civil, na mais acentuada simplicidade.
Muitos companheiros de nosso plano acorreram à residência do ferroviário, inclusive as freiras de­sencarnadas que consagravam ao enfermeiro par­ticular estima.
A casa de Zulmira, enfeitada de rosas, regor­gitava de gente amiga.
A felicidade transparecia de todos os sem­blantes.
À noite, na casinha singela de Antonina, reu­niram-se quase todos os convidados, novamente.
Os recém-casados queriam orar, em companhia dos laços afetivos, agradecendo ao Senhor a ven­tura daquele dia inolvidável.
O telheiro humilde jazia repleto de entidades afetuosas e iluminadas, inspirando entusiasmo e esperança, júbilo e paz.
Quem pudesse ver o pequeno lar, em toda a sua expressão de espiritualidade superior, afirmaria estar contemplando um risonho pombal de ale­gria e de luz.
Na salinha estreita e lotada, um velho tio da noiva levantou-se e dispôs-se à oração.
Clarêncio abeirou-se dele e afagou-lhe a cabe­ça que os anos haviam encanecido, e seus engelha­dos lábios, no abençoado calor da inspiração com que o nosso orientador lhe envolvia a alma, pro­nunciaram comovente rogativa a Jesus, suplican­do-lhe que os auxiliasse a todos na obediência aos seus divinos desígnios.
Lágrimas serenas velavam-nos o olhar.
Terminada a prece, Haroldo, Henrique e Lis-bela, vestidos de branco, distribuiram licores e gu­loseimas.
Emocionados, acercamo-nos dos nubentes para as despedidas.
Abraçando-os, vimos junto deles que Eveli­na, no fulgor de sua primavera juvenil, aceitava a proteção carinhosa de um rapaz que a fitava, enamorado.
O Ministro sorriu e explicou-nos:
— Este é Lucas, irmão de Antonina, atual­mente futuroso gráfico na capital paulista, cuja bela formação espiritual associar-se-á, em breve, com a primogênita de Amaro, para a execução das tarefas que a esperam no mundo.
Cortando-nos a possibilidade de excessivas in­quirições, o instrutor acrescentou:
— Tudo é amor no caminho da vida. Apren­damos a usá-lo na glorificação do bem, com o nos­so próprio trabalho, e tudo será bênção.
Retiramo-nos, satisfeitos.
E porque o dever nos convocava à distância, seguimos à frente, tentando assimilar com o nosso abnegado orientador a preciosa conjugação do ver­bo servir.



Do livro "ENTRE A TERRA E O CÉU", pelo espírito André Luiz - psicografia de Chico Xavier.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

CONFIANÇA PLENA

Em 1989, um violento terremoto quase arrasou a Armênia, matando mais de 30 mil pessoas em menos de 4 minutos.
Em meio à completa devastação e ao caos, um pai deixou sua esposa segura em casa e correu para a escola onde seu filho supostamente deveria estar, só para descobrir que o edifício estava totalmente no chão.
Depois do choque inicial, ele se lembrou da promessa que tinha feito ao filho: Não importa como, quando ou onde, eu sempre estarei com você!
Lágrimas amargas rolaram do seu rosto transtornado.
Olhou para as ruínas onde havia sido a escola, e a situação parecia sem esperanças. Mas, face à promessa que fizera ao filho, recobrou o ânimo e buscou lembrar o caminho que percorria com o garoto.
Lembrou que a sua sala ficava no canto de trás do prédio. Correu para lá e começou a cavar em meio aos cascalhos.
Enquanto cavava, outros parentes desamparados chegaram com os corações em disparada, gritando: Meu filho!, Minha filha!
Outros tentavam retirá-lo de cima dos escombros dizendo: É muito tarde! Eles estão mortos! Vá para casa! Vamos. Encare a realidade! Não há nada que você possa fazer!
Para cada pai ele respondia com uma única frase: Você vai me ajudar agora? E, então, continuava a cavar à procura de seu filho, pedra por pedra.
O chefe dos bombeiros, os policiais, todos tentaram, em vão, afastá-lo de cima das ruínas. Corajosamente ele prosseguiu, sozinho...
Cavou por 8 horas... 12 horas... 24 horas... 36 horas... E então, na trigésima oitava hora, ele puxou um bloco e ouviu a voz de seu filho.
Gritou seu nome e o menino respondeu: Pai? Sou eu, pai!
Eu disse para os outros meninos não se preocuparem, que se você estivesse vivo você me salvaria, e, quando você me salvasse, eles também estariam salvos.
Você prometeu, lembra? Não importa como, quando ou onde, eu sempre estarei com você. Você conseguiu pai!
O pai, emocionado, perguntou como estava a situação lá embaixo, e o filho respondeu que das 33 crianças, 14 conseguiram sobreviver graças a uma espécie de cabana triangular que se formou quando o prédio desabou.
Venha aqui para fora! Disse o pai ao filho querido, estendendo-lhe a mão.
Não, pai! Deixe os outros irem primeiro, porque eu sei que você vem me buscar! Não importa como, quando ou onde, eu sei que você estará sempre comigo!


Os pais modernos, confusos diante de tanta informação a respeito da formação do caráter dos filhos, se esquecem de oferecer o que a criança mais necessita: o amor incondicional.

Temerosos de que seus filhos se tornem medrosos e inseguros, deixam-nos seguir desolados e sós.
Para a criança é de suma importância sentir-se segura e amparada nos momentos difíceis de sua vida.
E esses momentos podem ser um sonho assustador no meio da noite, quando a criança atravessa os longos corredores escuros em busca do amparo dos braços fortes dos pais, que são para eles um refúgio seguro.
Pode ser também o medo do escuro, o medo da água, do elevador, de altura, de insetos, de ficar sozinho, de ser abandonado.
Assim, sejamos para nossos filhos o amparo de que eles necessitam no momento em que necessitem.
Não tenhamos receio de amá-los e fazê-los se sentirem seguros e confiantes, até que superem os medos e possam se tornar pais e mães firmes o bastante para educar seus próprios filhos.


Redação do Momento Espírita

REAJUSTE

Quando os amigos se afastaram, Clarêncio cer­cou Zulmira de cuidados especiais, aplicando-lhe passes de reconforto.
A injeção de sangue renovador lhe fizera gran­de bem.
Pouco a pouco, acomodaram-se-lhe os centros de força.
Desde a desencarnação do filhinho, a pobre criatura não desfrutava tão acentuado repouso, quanto naquela hora.
Nosso instrutor recomendou a Odila prepa­rasse o pequeno Júlio para o reencontro com a mãezinha.
Zulmira vê-lo-ia, buscando energias novas.
E enquanto nossa irmã se distanciava para o desempenho da missão que lhe fora cometida, o orientador falou, otimista:
— Um sonho reconfortante é uma bênção de saúde e alegria para os nossos irmãos encarnados.
Íamos responder, mas a doente, à semelhança das pessoas na hipnose profunda, levantou-se em Espírito, contemplando-nos, surpresa.
O olhar dela, admirávelmente lúcido, falava-nos de sua ansiedade maternal.
Clarêncio afagou-a, como se o fizesse a uma filha, rogando-lhe calma e fé.
Desdobrava-se-lhe a preleção carinhosa, quando partimos.
Amparada em nossos braços, Zulmira volltou sem perceber.
Observei que o espetáculo magnificente da Na­tureza não lhe feria a atenção. Introvertida, ape­nas a imagem da criancinha morta lhe ocupava a tela mental.
O Lar da Bênção mostrava-se maravilhoso.
Flores de rara beleza coloriam a estrada e embalsamavam-na de suave perfume.
Aqui e ali, doces melodias vibravam no ar. A glória fulgurante do céu induzia-nos à oração de reverência e louvor ao Pai Celestial, mas a pobre mulher que seguia conosco parecia insen­sível à excelsitude do ambiente, à face da tortura interior de que se via possuída, obrigando-me a reconhecer, mais uma vez, que o paraíso da alma, em verdade, reside onde se lhe situa o amor.
Reparei que para a devoção afetuosa de Zul­mira não importava o rumo. Qualquer indaga­ção, perante aquela ternura atormentada, resulta­ria inútil.
Creio que, se, ao invés da refulgente luz do Lar da Bênção, apenas víssemos trevas, para aquele espírito agoniado de mãe o quadro seria de verda­deiro paraíso, desde que pudesse reter nos braços o filhinho inesquecível.
Quem poderá definir com exatidão os indevas­sáveis segredos que Deus colocou nos corações que amam?
Quando penetramos o berçário, onde o menino repousava, sob a abnegada vigilância de Odila e Blandina, a sofredora mãezinha tentou arrojar-se sobre a criança sonolenta, sendo delicadamente ad­vertida por nosso orientador, que a sustentou, pa­ternal, asseverando:
— Zulmira, não perturbes o pequenino se o amas.
— É meu filho! — bradou, semidesvairada.
— Não ignoramos que Júlio se asilou na Terra em teu regaço e, por isso, fomos teus companhei­ros na presente viagem para que amenizes a tua dor. Entretanto, não admitas que o egoísmo te ensombre a alma!... Certamente, o carinho ma­terno é um tesouro inapreciável, contudo não de­vemos olvidar que todos somos filhos de Deus, nosso Eterno Pai! Acalma-te!
Pede ao Senhor os recursos necessários para que o teu devotamento seja um auxílio positivo ao pequenino necessitado!
Tocada por essas palavras, Zulmira desfez-se em pranto.
Enlaçada afetuosamente por Odila, que ten­tava soerguer-lhe o ânimo, reconheceu a primeira esposa de Amaro e recordou a luta que haviam atravessado, quando do afogamento do pequeno irmão de Evelina.
O remorso voltou a refletir-se-lhe na mente e, atribulada, exclamou:
— Odila! perdoa-me, perdoa-me!... agora vejo o inferno que te impus, despreocupando-me de teu filhinho... Hoje, pago com lágrimas minha deplo­rável displicência! Ajuda-me, querida irmã!...
Sê para o meu Júlio a guardiã que não fui para o teu!
A interpelada acariciou-a, compadecidamente, e ajuntou:
— Tem paciência! a aflição é um incêndio que nos consome... Paguemos à vida o tributo da con­formação na dor, para que sejamos efetivamente dignas do socorro celestial...
E, beijando-a nos olhos, aduziu:
— Enxuga as lágrimas que te fustigam inutilmente. A serenidade é o nosso caminho de rees­truturação espiritual. Não te reportes ao passado... Vivamos o presente, fazendo o melhor ao nosso alcance.
— Agora, porém, que sofro as agruras de mi­nha prova — acentuou Zulmira, em tom amargo —, penso em teu anjinho...
Odila, aconchegando de encontro ao peito, conduziu-a para mais perto do menino adormecido e, indicando-o, aclarou, satisfeita:
— Ouve! meu filhinho é também o teu. Júlio de hoje é o nosso Júlio de ontem. Pesados compromissos com o pretérito obrigaram-no a aceitar as dificuldades do momento... Em nosso apren­dizado de agora, teve a existência frustrada por duas vezes, a fim de valorizar, com segurança, a bênção da escola terrestre.
Ante a companheira perplexa, acrescentou, con­vincente:
— O corpo de carne é uma veste que o nos­so Júlio usou de dois modos diferentes, por nosso intermédio.
E sorrindo:
— Como vemos, somos duas mães, partilhando o mesmo amor.
Notávamos que Zulmira, admirada, estimaria algo perguntar, mas o choque da revelação como que lhe imobilizara a garganta.
No imo d'alma, decerto algo lhe alterara o campo emotivo.
Secaram-se-lhe as lágrimas, ao passo que o olhar se lhe fazia mais brilhante.
Afigurava-se-nos uma estátua viva de intra­duzível expectação.
Sem resistência, deixou-se conduzir pelos bra­ços de Odila até um leito próximo, para ajustar-se ao repouso preciso.
Agora sim — pensava, surpreendida —, co­meçava a compreender... Júlio prematuramente expulso da experiência material pelo afogamento, ao mundo tornara em nova tentativa que redundara em frustração...
Porquê? porquê?
O pensamento dolorido intentava penetrar os segredos do tempo, arrastando-a ao passado remo­to, mas o cérebro doía-lhe, dilacerado... Realmen­te, não lhe seria possível naquelas circunstâncias qualquer incursão no domínio das reminiscências, mas percebia, enfim, a Bondade Eterna que reúne as almas nos mesmos laços de trabalho e espe­rança do caminho redentor...
Lembrou a animo­sidade fria que experimentara por Júlio. logo após seus esponsais, e o imanifesto ciúme que nutria, diante das atenções que Amaro lhe dispensava, e reconheceu que a Providência Divina, ligando-o ao seu coração de mãe, lhe sublimara os sentimentos...
Agora sentia por ele inexpressável carinho e iluminado amor...
De espírito assim transformado, via em Odila não mais a rival, mas a benfeitora que, sem dú­vida, lhe seguira de perto a transfiguração.
Enlaçou-se a ela, em pranto silencioso, qual se lhe fora filha a ocultar-se nos braços maternais.
A primeira esposa de Amaro, imensamente co­movida, correspondia-lhe as manifestações afetivas, afagando-lhe os cabelos.
— Convém-lhe o repouso — afirmou Clarên­cio, amigo —, qualquer recordação agora lhe agra­varia o conflito mental.
Odila desembaraçou-se da companheira, dei­xando-a a sós no descanso justo, e seguiu-nos.
Despedindo-nos, o instrutor aconselhou fosse Zulmira mantida no berçário mais algumas horas.
Desse modo, o corpo denso seria mais amplamente beneficiado pelo sono reparador.
Voltaríamos para reconduzi-la à residência ter­restre, de maneira a garantir-lhe, tanto quanto possível, as melhoras gerais.
Afastamo-nos, assim, para regressar em breve.
Com efeito, transcorrido o tempo que o nosso instrutor julgou indispensável, tornamos ao Lar da Bênção para restituir nossa amiga ao ninho distante.
O relógio marcava nove da manhã, quando a enferma, sob a nossa vigilância, despertou no cor­po físico.
Zulmira, retomando o equipamento cerebral mais denso, não conseguiu articular a lembrança da excursão que se lhe afigurou, então, delicioso sonho.
Guardava a impressão nítida de que revira o filhinho em alguma parte e semelhante certeza lhe restaurara a calma e a confiança.
Sentia-se mais leve, quase feliz.
Evelina, atendendo-lhe o chamado, identificou-lhe as melhoras, rendendo graças a Deus.
A jovem, contente, trouxe Antonina e Lisbela ao quarto. A viúva chegara cedo com a filhinha, com o melhor desejo de cooperar.
A doente saudou-as, satisfeita. Recordava-se, de modo impreciso, da noite anterior e agradeceu o cuidado de que se via objeto. Aceitou o café substancioso que lhe foi trazido e tão reanimada se sentia que, sem qualquer cerimônia, confiou a Antonina as impressões renovadoras de que se via dominada.
Permanecia convicta de que vira Júlio e abra­çara-o... Onde e como? não saberia dizer.
Mas o contentamento que a felicitava era bem o teste­munho de que recolhera naquela noite benefícios reais.
— Felizmente, a transfusão de sangue foi co­roada de pleno êxito! — exclamou Evelina, encantada.
— Sim — disse Antonina, concordando —, a providência terá sido das mais proveitosas, no entanto, estou certa de que dona Zulmira terá re­encontrado o filhinho no plano espiritual, readqui­rindo novo ânimo para a luta.
Aquela asserção confiante foi registrada pela enferma com sincera alegria.
— A senhora julga então possível? — inda­gou a dona da casa, de olhos faiscantes.
— Como não? — aduziu Antonina, confortada — a morte não existe como a entendemos. Do Além, nossos amados que partiram estendem-nos os braços. Tenho igualmente um filho na Vida Maior que vem sendo para mim precioso susten­táculo.
A enferma demonstrou invulgar interesse na conversação.
Há momentos na vida em que somos castiga­dos pela fome de fé e Antonina era uma fonte irradiante de otimismo e firmeza moral.
Evelina e Lisbela retiraram-se para o interior da casa, atentas à limpeza doméstica e as duas amigas passaram a mais íntimo entendimento.
A colaboração de Antonina fora realmente pro­videncial, porque, ao deixarmos o domicilio do fer­roviário, reparamos que Zulmira, de alma restau­rada, ao toque de novas esperanças, mostrava no rosto a tranquilidade segura de abençoada conva­lescença.



Do livro "ENTRE A TERRA E O CÉU", pelo espírito André Luiz - psicografia de Chico Xavier.