terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O GRANDE PECADO

“Declarou, então, Jesus aos sacerdotes: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não lhe destes crédito, mas os publicanos e as meretrizes lho deram…” (Evangelho)

Como vemos, o intérprete da Soberana Justiça classifica a falta dos sacerdotes mais grave que as das meretrizes e os publicanos, sendo que estes, no exercício do fisco, furtavam os contribuintes exigindo maior imposto que o estabelecido na lei.
Mas, afinal, que espécie de delito praticavam os sacerdotes cuja gravidade o sábio Mestre reputa maior que o pecado das decaídas e dos publicanos?
A culpabilidade das meretrizes procede das fraquezas da carne. A ladroíce dos publicanos não deixa de ser, a seu turno, fruto da frouxidão de caráter, modalidade de fraqueza também; ao passo que o crime dos maus sacerdotes se funda na má-fé com que procedem, iludindo o povo cujos sentimentos religiosos exploram. Trata-se de um programa doloso concebido, planejado e posto em prática com sagacidade e perfídia. Eles mesmos, os sacerdotes, não acreditam no que dizem, agindo em desacordo com a própria consciência. As conseqüências do mal praticado pela casta sacerdotal assumem proporções muito mais extensas que aquelas derivadas da vida dissoluta das messalinas e da desonestidade dos publicanos. As infelizes decaídas suportam, desde logo, os efeitos dos excessos e desmandos a que se entregam, sendo, elas mesmas, as maiores vítimas; enquanto que a mentira religiosa espalhada e mantida pelos maus sacerdotes responde pela corrupção moral do povo, pela impostura e pelo regime de mistificações que se generaliza em todas as camadas sociais. O pecado, portanto, dos sacerdotes, a cuja responsabilidade se furtam no momento, é de efeitos mais prejudiciais e danosos que o dos publicanos e o das meretrizes. Estas exploram seu corpo; os publicanos exploram o cargo que ocupam, lesando materialmente os contribuintes, ao passo que os sacerdotes exploram o que há de mais sagrado e santo no homem: o sentimento religioso, nas relações entre a criatura e o Criador.

Tal é o delito contra o campo aberto à sementeira das eternas verdades reveladas do Céu através dos divinos mensageiros de Deus.

A insinceridade, o dolo no que respeita às questões espirituais – numa palavra – a hipocrisia – eis o Grande Pecado.

Autor: Pedro de Camargo – Pseudônimo de Vinícius
Livro: Na Seara do Mestre – Editora: FEB (Federação Espírita Brasileira) 

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