quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A OPORTUNIDADE

Quando eu parti deste mundo, tinha ficado em uma prisão por doze anos, perdi a minha liberdade com trinta anos, aguentei na prisão todo este tempo, mas foi uma loucura, ali é um lugar de pessoas que estão abaixo da condição de seres humanos.

Tínhamos que dormir um de cada vez, o banheiro era sujo e fedorento, o banho só era dado em coletividade, perdi minha individualidade, não sabia mais quem eu era, cada um tinha seu sabonete e sua pasta de dente.


As brigas e mortes eram constantes, em minha cabeça eu não tinha medo da morte, acharia até bom se ela viesse, a cela em que estávamos era úmida e as grades eram geladas, o piso era frio, minha cama era feita de cimento e tijolos.

Deus ali só para quem ainda mantinha sua fé, aquele lugar era um sofrimento, as horas demoravam muito para passar, os dias intermináveis, sentia muita saudade de meus amigos e parentes, de minha filha, minha esposa.


De manhã cedo o soldado vinha e batia um cassetete nas grades da cela para que acordássemos, durante a noite dava para escutar choros e gemidos de presos que sentiam dor, ninguém ali tinha como passar em um médico, uma simples dor de dente se tornava um tormento, não tínhamos remédios.


Durante todo o tempo que estive preso fui praticamente obrigado a usar drogas, eu as usava para não perder a amizade, também por medo de ser rejeitado, medo de ser notado ou que pensassem que eu era diferente.


Dentro de uma cadeia o que conta é amizade, sem amizade você se torna um provável morto, a violência e o ódio estão presentes nos olhares, ninguém protege ninguém, cada um por si, os mais fortes sobrevivem.


Meu erro que me condenou a prisão foi achar que eu era muito esperto, saí para fazer um furto," roubar um mercado", tinha conseguido emprestado com amigos uma arma, durante o assalto eu estava muito nervoso, minhas mãos suavam, tremiam, fui com mais três companheiros nessa loucura, um deles foi atingido por uma bala que partiu do revolver de um policial que tinha mais ou menos uns vinte e três anos.


Eu estava no meio dos caixas do supermercado, uma mulher meio obesa com cabelos escuros, ficou deitada no chão, como nós tínhamos mandado, mas ela de repente se levantou e tentou sair correndo, sem pensar eu instintivamente apontei o revolver e atirei.


Foi quando recebi uma paulada na cabeça, a polícia já estava dominando o nosso assalto, a casa tinha caído, fui a julgamento em mais ou menos um ano, neste tempo fiquei preso, depois fui condenado e transferido para uma cadeia maior.


Me desculpe minha senhora eu não há conheço, atirei na hora do susto, a senhora provavelmente deveria ser mãe, no mínimo estava trabalhando para levar o alimento para casa, para seus filhos, e eu lá para roubar.


Roubei o supermercado e a vida dela, me arrependo de tudo que fiz em minha vida, mas não sei como me reencontrar, fui separado de minha família pela justiça dos homens, fiquei sem oportunidade de ter uma nova chance, doze anos em uma prisão, agora estou aqui já morto.


Lembro vagamente, meus companheiros de cela achavam que eu tinha falado para um dos guardas que havia uma faca escondida ali, fiquei isolado por um tempo, não falavam comigo, tudo aquilo era injusto mas eu não tinha como me defender desta acusação.


Sei que enquanto dormia um deles me enfiou uma faca no pescoço, minha veia jugular vazava muito, minhas forças foram se acabando, não sentia dor só a fraqueza, depois nem sei como acordei aqui neste mundo espiritual.


Minha situação perante a Deus, não sei direito, acho que ele não gosta muito de mim, mas ele tem razão de não gostar, eu só fiz coisas erradas em minha vida, nunca procurei uma igreja nem a fé, nunca me preocupei com isso.


Quando olho para meu corpo só vejo uma escuridão que me parece muito estranha, minhas roupas estão escuras e minha pele também, sinto que tenho bichos dentro de mim me roendo, sinto uma fome que é extremamente angustiante, sinto dores em todo o corpo, sei que já me fui desta vida, mas não sei o que estou fazendo aqui, só sei que tenho que tentar ajuda de alguma maneira, não sei a quanto tempo estou morto, mas sei que passei um bom tempo meio atordoado, sem saber quem eu era.

Estou em uma casa que tem uma pessoa escrevendo em um computador, mas não sei o que ele escreve tanto, já tentei me comunicar várias vezes, mas ele tem um cerco que impede minha aproximação, são outros espíritos que eu não posso ver, mas sei que estão ali, porque quanto tento me aproximar sou barrado como se fosse uma parede de vidro que estivesse em minha frente, estou desesperado e não sei o que fazer.


Notei que aquele homem as vezes para e faz uma oração, sei que é uma oração porque vejo vários feixes de luzes saindo para todos os lados, em algum momento estes feixes me atingiram, a sensação que senti foi como se uma força muito grande estivesse se incorporando em mim, que sensações estranhas, nunca imaginei que pudesse acontecer isto.


Aquele homem está escrevendo uma historia, o mais incrível é que eu acho que é sobre mim mesmo, ele está me sentindo, está captando meus pensamentos, como pode ser isto, não pode ser, me dá a impressão que tem muita gente ou espírito aqui, não vejo ninguém, sei que estou sendo percebido por ele, mas como pode ser, ele nem está virado para mim.


-Na verdade meu filho não é ele e sim eu que estou sintonizado com os seus pensamentos e estou passando para ele, ele apenas é uma pessoa comum que nos ajuda.


- Ai meu Deus quem é você?


Sou um espírito protetor, estou aqui com a permissão de Deus, toda a minha vida espiritual é voltada a doutrinar espíritos que estão perdidos.


- Por favor, me ajuda, estou em desgraça, não tenho nada e nem a ninguém a quem pedir.


-Você tem sim meu filho, a Deus, a ele é quem você tem que pedir ajuda, não a mim, nós somos só servos de sua obra que é grandiosa, o fato de você estar aqui é porque ele já te ajudou.


Você estava vagando pelas ruas como um cego, nós o ajudamos a chegar aqui, mas para você ter luz você tem que procurar a Deus, só Deus pode te ajudar, você vai se reencontrar, todos nós somos filhos de Deus em igual valor.


Deus não tem preferências por um ou outro, aquele homem que você reparou que está escrevendo ali, na verdade ele está escrevendo tudo que se passa aqui, por meu intermédio, porque assim Deus o quis, não acontece nada neste mundo sem que Deus o queira.


Nós espíritos e seres encarnados temos igualmente o livre arbítrio para praticar o mal e o bem, assim é que Deus quer, para que tenhamos a possibilidade de nos evoluirmos e aprender com os nossos erros.


Vá em paz meu amigo, procure sempre orar a Deus, peça ajuda, converse com Deus, ele é seu amigo, se precisar de nós aqui em algum momento nós o ajudaremos, aqui você teve a sua oportunidade de reencontrar seu caminho, aproveite.


Os erros do passado em que você se envolveu vão se mostrar para você, não se preocupe todos nós erramos, peça perdão, procure reparar seus erros, saiba que Deus é nosso pai.


Adeus.

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