quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Operação de Maravilhas, Profecia, Dom de Discernir os Espíritos...

…e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. (I Coríntios, 12: 10)

operação de maravilhas foi durante muito tempo mal compreendida pelos estudiosos dos textos bíblicos, e mais particularmente pelos religiosos em geral. Entendia-se essa capacidade como o poder de realizar milagres.
A palavra milagre nos retorna como significado um acontecimento inexplicável pelas leis naturais.
A Lei Natural é a Lei de Deus, portanto nada existe inexplicável, fora, ou em contradição com essas Leis, visto ser Deus a Perfeição Absoluta, e assim sendo, incapaz de errar ou contradizer-Se.
Quando o homem não entende um acontecimento isso não quer dizer que ele está contradizendo a Lei Divina, e sim que ele, homem, ainda não tem percepção ou compreensão correta daquele evento.
Jesus realizou inúmeros fatos ainda incompreensíveis para nós; outros se explicaram com o tempo e com o avanço da ciência humana e espiritual. Disse ainda o Meigo Nazareno, que poderíamos fazer tudo que ele fez, e mais ainda poderíamos realizar bastasse para isso desenvolver nossa capacidade de harmonização com o Criador, pois foi claro em afirmar que o que Ele fazia não era por Ele mesmo, mas o Pai é que operava através Dele. Em síntese Ele possuía recursos que ainda não possuímos, conhecia mecanismos da Lei que ainda desconhecemos. Tudo isso devido à Sua evolução espiritual conquistada através de Seu esforço e obediência aos desígnios superiores.
Dito isto fica claro que para que o Espírito manifeste por nós a operação de maravilhas é preciso que desenvolvamos nossa percepção das questões espirituais e realizemos em nós não só as mudanças estruturais necessárias a fim de compreendermos a mecânica das Leis Universais, como também a elas nos ajustarmos.
E a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia… A palavra profecia vem do latim prophetía, e do grego prophétéia que querem dizer predição, anúncio por inspiração divina; de pro- 'antes' + phémí 'dizer, manifestar, anunciar, contar; dizer sua opinião, pensar, crer'.
Por sua vez inspiração vem do latim. inspirátio,ónis 'hálito, bafo'.
Assim, receber a palavra de profecia é receber a inspiração divina, é entrar no hálito, no tempo do Criador.
Kardec faz no capítulo XVI do livro A Gênese interessante estudo sobre a Teoria da Presciência.
Segundo ele os espíritos mais evoluídos têm a possibilidade de antever alguns acontecimentos por se situarem em um patamar superior da evolução. Compara ele essa situação a de um homem que situando-se no cume de uma montanha pudesse perceber uma légua de um determinado caminho. Um outro que percorra esse caminho não tem a possibilidade de saber o que lhe vai adiante, se algum buraco, alguma subida ou descida. Só percebe quando chega no ponto. Aquele que está a observar do alto da montanha tem com antecedência o conhecimento da estrada a ser percorrida pelo viajante.
Assim se dá a profecia, Espíritos mais evoluídos têm essa condição por estarem no “tempo de Deus”, e se o médium entra em sintonia superior com Ele, percebendo seu hálito, inspira-se neste, e tem a possibilidade da revelação.
O apóstolo mostrava deste modo a seus seguidores de Corinto e a nós, discípulos de todos os tempos, a necessidade de harmonização interior para que possamos inspiradamente revelar, e revelação superior.
E a outro, o dom de discernir os espíritos. Em o Livro dos Médiuns temos importante estudo sobre os diversos tipos de mediunidade a partir do capítulo XI. Todavia é no XIX, quando é analisado O Papel dos Médiuns nas Comunicações Espíritas que os Espíritos reveladores afirmam:
comparemos os médiuns a esses bocais cheios de líquidos coloridos e transparentes, que se veem nos mostruários dos laboratórios farmacêuticos. Pois bem, nós somos como luzes que clareiam certos panoramas morais, filosóficos e internos, através dos médiuns, azuis, verdes, ou vermelhos, de tal sorte que os nossos raios luminosos, obrigados a passar através de vidros mais ou menos bem facetados, mais ou menos transparentes, isto é, de médiuns mais ou menos inteligentes, só chegam aos objetos que desejamos iluminar, tomando a coloração, ou, melhor, a forma de dizer própria e particular desses médiuns.1
Deste modo, como já dissemos anteriormente, o médium têm papel preponderante nas comunicações. O Espírito às vezes quer dizer uma coisa, mas com a influência do sensitivo a mensagem chega deturpada, pois muitos podem receber Espíritos, mas poucos têm o dom de discernir os Espíritos ou o que eles querem dizer.
É preciso ser intérprete das entidades, mas se conhecer o suficiente para poder saber o que é seu, o que é do ser comunicante. Muitas oportunidades são perdidas pelo simples fato do medianeiro desconhecer-se, e assim não compreender este fato. Exercer a mediunidade com responsabilidade evangélica vai muito além do simples receber ou conversar com Espíritos. É imperioso auto educar-se através do estudo sistemático dos fenômenos e de si mesmo, pois só nos fazendo diáfanos como o Cristal, seremos intermediários do Cristo com a grandeza que almejamos e necessitamos.
E a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. O substantivo xenoglossia, formado por xen(o)- antepositivo, do grego ksénos,é,on 'estrangeiro, estranho, insólito' ou ksénos,ou 'estrangeiro, hóspede' + gloss(o)- antepositivo, do grego glôssa,és 'língua; idioma, linguagem', quer dizer a fala espontânea em línguas que não foram previamente aprendidas. Por meio do transe mediúnico este fato pode se dar; é raro, mas possível.
Kardec não analisa esta mediunidade em profundidade, mas fala rapidamente a respeito em O Livro dos Médiuns capítulo XIX, item 233 questões de 15 a 17. André Luiz pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier nos fala um pouco mais no capítulo 23 do livro Nos Domínios da Mediunidade.
Segundo as anotações do autor espiritual da série Nosso Lar, através de comentários de seus instrutores do Plano Maior, em todos os casos dessa natureza, “as forças do passado são trazidas ao presente.” O que nos leva depreender que mesmo sendo a língua estranha ao médium na atual encarnação, foi dele conhecida em outra, pois confirma o instrutor Áulus: “em mediunidade há também o problema da sintonia no tempo”2
Como dissemos este é um tipo raro de mediunidade, e na maioria das vezes sem grande utilidade, pois de que vale o médium trazer uma mensagem em idioma desconhecido, que proveito haveria? Já passamos dos tempos de fenômenos só para efeito de comprovação ou para despertar a credulidade das pessoas, hoje, quando as comunicações entre os dois planos da vida, são já uma realidade aos que têm olhos de ver, é preciso dar um pouco mais de qualidade aos fenômenos, fazendo destes instrumento de transformação moral daqueles vinculados ao processo.
O próprio Paulo já nos falava a respeito:
E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas, a não ser que também interprete, para que a igreja receba edificação.
E, agora, irmãos, se eu for ter convosco falando línguas estranhas, que vos aproveitaria, se vos não falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina?
Da mesma sorte, se as coisas inanimadas que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara?
Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?
Assim, também vós, se, com a língua, não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque estareis como que falando ao ar.3
Todavia, afirma o apóstolo que há os que têm o dom da interpretação das línguas. Neste caso a comunicação ganha um sentido maior, pois então compreende-se o que o Espírito comunica. Pode o médium com esta capacidade, se não for conhecedor do idioma em que é transmitido a mensagem, captar o pensamento da entidade, pois como afirma o Codificador, no item já citado de O Livro dos Médiunsos Espíritos só têm uma língua, que é a do pensamento.
1 O Livro dos Médiuns, item 225
2 Nos Domínios da Mediunidade pág. 222
3 I Coríntios, 14: 5 a 9



Autor:
Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG)
Cláudio Fajardo é bancário, escritor desde 1997, dedica-se ao estudo do Novo Testamento à luz da Doutrina. Coordenou curso de Espiritismo no Centro Espírita Amor e Caridade em Goiânia – GO, denominado de Curso de Espiritismo e Evangelho. A partir daí surgiram seus livros: O Sermão do Monte, Jesus Terapeuta I e II, O Sermão Profético e O Sermão do Cenáculo, todos publicados pela Editora Itapuã.
Blogs: http://espiritismoeevangelho.webnode.com/
e-mail: fajardo1960@gmail.com

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