Operação de Maravilhas, Profecia, Dom de Discernir os Espíritos...
…e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a
outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de
línguas; e a outro, a interpretação das línguas. (I Coríntios, 12: 10)
A operação de maravilhas foi
durante muito tempo mal compreendida pelos estudiosos dos textos
bíblicos, e mais particularmente pelos religiosos em geral. Entendia-se
essa capacidade como o poder de realizar milagres.
A palavra milagre nos retorna como significado um acontecimento inexplicável pelas leis naturais.
A Lei Natural é a Lei de Deus, portanto nada existe
inexplicável, fora, ou em contradição com essas Leis, visto ser Deus a
Perfeição Absoluta, e assim sendo, incapaz de errar ou contradizer-Se.
Quando o homem não entende um
acontecimento isso não quer dizer que ele está contradizendo a Lei
Divina, e sim que ele, homem, ainda não tem percepção ou compreensão
correta daquele evento.
Jesus realizou inúmeros fatos
ainda incompreensíveis para nós; outros se explicaram com o tempo e com o
avanço da ciência humana e espiritual. Disse ainda o Meigo Nazareno,
que poderíamos fazer tudo que ele fez, e mais ainda poderíamos realizar
bastasse para isso desenvolver nossa capacidade de harmonização com o
Criador, pois foi claro em afirmar que o que Ele fazia não era por Ele
mesmo, mas o Pai é que operava através Dele. Em síntese Ele possuía
recursos que ainda não possuímos, conhecia mecanismos da Lei que ainda
desconhecemos. Tudo isso devido à Sua evolução espiritual conquistada
através de Seu esforço e obediência aos desígnios superiores.
Dito isto fica claro que para que o Espírito manifeste por nós a operação de maravilhas é
preciso que desenvolvamos nossa percepção das questões espirituais e
realizemos em nós não só as mudanças estruturais necessárias a fim de
compreendermos a mecânica das Leis Universais, como também a elas nos
ajustarmos.
E a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia… A palavra profecia vem do latim prophetía, e do grego prophétéia que querem dizer predição, anúncio por inspiração divina; de pro- 'antes' + phémí 'dizer, manifestar, anunciar, contar; dizer sua opinião, pensar, crer'.
Por sua vez inspiração vem do latim. inspirátio,ónis 'hálito, bafo'.
Assim, receber a palavra de profecia é receber a inspiração divina, é entrar no hálito, no tempo do Criador.
Kardec faz no capítulo XVI do livro A Gênese interessante estudo sobre a Teoria da Presciência.
Segundo ele os espíritos mais evoluídos têm a
possibilidade de antever alguns acontecimentos por se situarem em um
patamar superior da evolução. Compara ele essa situação a de um homem
que situando-se no cume de uma montanha pudesse perceber uma légua de um
determinado caminho. Um outro que percorra esse caminho não tem a
possibilidade de saber o que lhe vai adiante, se algum buraco, alguma
subida ou descida. Só percebe quando chega no ponto. Aquele que está a
observar do alto da montanha tem com antecedência o conhecimento da
estrada a ser percorrida pelo viajante.
Assim se dá a profecia, Espíritos mais evoluídos têm
essa condição por estarem no “tempo de Deus”, e se o médium entra em
sintonia superior com Ele, percebendo seu hálito, inspira-se neste, e
tem a possibilidade da revelação.
O apóstolo mostrava deste modo a seus seguidores de
Corinto e a nós, discípulos de todos os tempos, a necessidade de
harmonização interior para que possamos inspiradamente revelar, e
revelação superior.
E a outro, o dom de discernir os espíritos.
Em o Livro dos Médiuns temos importante estudo sobre os diversos tipos
de mediunidade a partir do capítulo XI. Todavia é no XIX, quando é
analisado O Papel dos Médiuns nas Comunicações Espíritas que os Espíritos reveladores afirmam:
…comparemos os médiuns a esses bocais cheios
de líquidos coloridos e transparentes, que se veem nos mostruários dos
laboratórios farmacêuticos. Pois bem, nós somos como luzes que clareiam
certos panoramas morais, filosóficos e internos, através dos médiuns,
azuis, verdes, ou vermelhos, de tal sorte que os nossos raios luminosos,
obrigados a passar através de vidros mais ou menos bem facetados, mais
ou menos transparentes, isto é, de médiuns mais ou menos inteligentes,
só chegam aos objetos que desejamos iluminar, tomando a coloração, ou,
melhor, a forma de dizer própria e particular desses médiuns.1
Deste modo, como já dissemos anteriormente, o médium
têm papel preponderante nas comunicações. O Espírito às vezes quer dizer
uma coisa, mas com a influência do sensitivo a mensagem chega
deturpada, pois muitos podem receber Espíritos, mas poucos têm o dom de discernir os Espíritos ou o que eles querem dizer.
É preciso ser intérprete das entidades, mas se
conhecer o suficiente para poder saber o que é seu, o que é do ser
comunicante. Muitas oportunidades são perdidas pelo simples fato do
medianeiro desconhecer-se, e assim não compreender este fato. Exercer a
mediunidade com responsabilidade evangélica vai muito além do simples
receber ou conversar com Espíritos. É imperioso auto educar-se através
do estudo sistemático dos fenômenos e de si mesmo, pois só nos fazendo
diáfanos como o Cristal, seremos intermediários do Cristo com a grandeza
que almejamos e necessitamos.
E a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. O substantivo xenoglossia, formado por xen(o)- antepositivo, do grego ksénos,é,on 'estrangeiro, estranho, insólito' ou ksénos,ou 'estrangeiro, hóspede' + gloss(o)- antepositivo, do grego glôssa,és 'língua;
idioma, linguagem', quer dizer a fala espontânea em línguas que não
foram previamente aprendidas. Por meio do transe mediúnico este fato
pode se dar; é raro, mas possível.
Kardec não analisa esta mediunidade em profundidade, mas fala rapidamente a respeito em O Livro dos Médiuns capítulo
XIX, item 233 questões de 15 a 17. André Luiz pela mediunidade de
Francisco Cândido Xavier nos fala um pouco mais no capítulo 23 do livro Nos Domínios da Mediunidade.
Segundo as anotações do autor espiritual da série
Nosso Lar, através de comentários de seus instrutores do Plano Maior, em
todos os casos dessa natureza, “as forças do passado são trazidas ao presente.” O
que nos leva depreender que mesmo sendo a língua estranha ao médium na
atual encarnação, foi dele conhecida em outra, pois confirma o instrutor
Áulus: “em mediunidade há também o problema da sintonia no tempo”2
Como dissemos este é um tipo raro de mediunidade, e na
maioria das vezes sem grande utilidade, pois de que vale o médium
trazer uma mensagem em idioma desconhecido, que proveito haveria? Já
passamos dos tempos de fenômenos só para efeito de comprovação ou para
despertar a credulidade das pessoas, hoje, quando as comunicações entre
os dois planos da vida, são já uma realidade aos que têm olhos de ver, é
preciso dar um pouco mais de qualidade aos fenômenos, fazendo destes
instrumento de transformação moral daqueles vinculados ao processo.
O próprio Paulo já nos falava a respeito:
E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas;
mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o
que fala línguas estranhas, a não ser que também interprete, para que a
igreja receba edificação.
E, agora, irmãos, se eu for ter convosco
falando línguas estranhas, que vos aproveitaria, se vos não falasse ou
por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina?
Da mesma sorte, se as coisas inanimadas que
fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como
se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara?
Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?
Assim, também vós, se, com a língua, não
pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz?
Porque estareis como que falando ao ar.3
Todavia, afirma o apóstolo que há os que têm o dom da interpretação das línguas. Neste
caso a comunicação ganha um sentido maior, pois então compreende-se o
que o Espírito comunica. Pode o médium com esta capacidade, se não for
conhecedor do idioma em que é transmitido a mensagem, captar o
pensamento da entidade, pois como afirma o Codificador, no item já
citado de O Livro dos Médiuns, os Espíritos só têm uma língua, que é a do pensamento.
1 O Livro dos Médiuns, item 225
2 Nos Domínios da Mediunidade pág. 222
3 I Coríntios, 14: 5 a 9
Autor:
Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG)
Cláudio Fajardo é bancário, escritor desde 1997, dedica-se ao estudo do Novo Testamento à luz da Doutrina. Coordenou curso de Espiritismo no Centro Espírita Amor e Caridade em Goiânia – GO, denominado de Curso de Espiritismo e Evangelho. A partir daí surgiram seus livros: O Sermão do Monte, Jesus Terapeuta I e II, O Sermão Profético e O Sermão do Cenáculo, todos publicados pela Editora Itapuã.
Blogs: http://espiritismoeevangelho.webnode.com/
e-mail: fajardo1960@gmail.com
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