Antonio Baracat
“E quem é o meu próximo?”
(Lucas, 10:29),
O
“Pinga Fogo”, programa da extinta TV Tupi, de 1971, publicado pela
Versátil Vídeo, é inestimável repositório de lições, dentre as quais se
destaca a sábia resposta que Chico Xavier deu a uma das perguntas do
repórter Saulo Gomes, que lhe pediu posicionamento sobre a pena de
morte, praticada em diversos países e que se discutia no Brasil naquele
momento. Registre-se a coragem do jovem jornalista em tratar do tema
macabro que a Ditadura Militar fomentava como meio de intimidação e meta
de punição para seus opositores, como, aliás, nos bastidores e porões
covardemente utilizou contra muitos, como os mais de trezentos
brasileiros e brasileiras cujos corpos até hoje estão desaparecidos,
permanecendo impunes até hoje os responsáveis por tais arbitrariedades e
violência.
Chico,
sempre modesto, dizendo que Emmanuel, seu guia espiritual, o orientava
na resposta, se referiu à necessidade de reeducação criminal, citando o
exemplo da Penitenciária Agrícola de Ribeirão das Neves, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Reconheceu a necessidade de se coibir o
crime, mas também assegurar ao infrator oportunidades de reparação de
seus erros, até os passíveis de condenação à pena capital.
Com a voz embargada, Chico prosseguiu dando nova interpretação à Parábola do Bom Samaritano,
considerada tradicionalmente somente como louvação à prática da
caridade. Chico lembrou que quase todos os personagens foram
qualificados: os salteadores, o sacerdote, o levita, o samaritano e o
hospedeiro, menos a figura central da narrativa, apresentada apenas como
“um homem”. Perguntou quem poderia ser aquele homem, respondendo que
poderia ser inclusive um criminoso passível de condenação à morte, mas
Nosso Mestre e Senhor Jesus Cristo não perdeu tempo em discutir de quem
se tratava: era um homem que requeria amparo e auxílio, fosse quem
fosse, e isso bastava.
Assim,
brilhou outra vez a vanguarda de temas que ligam o céu à terra,
antecipando questões ainda não assimiladas. Externando máxima ternura,
sabedoria e entendimento, Chico demonstrou com firmeza, com base no
Evangelho, que a pena de morte não se justifica em nenhuma hipótese,
pois mesmo aos que praticam os maiores erros deve ser assegurada
possibilidade de reabilitação.
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Quem sabe pode muito; quem ama pode mais.
Chico Xavier
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