quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CHICO E A PENA DE MORTE

Antonio Baracat

E quem é o meu próximo?”
(Lucas, 10:29),

O “Pinga Fogo”, programa da extinta TV Tupi, de 1971, publicado pela Versátil Vídeo, é inestimável repositório de lições, dentre as quais se destaca a sábia resposta que Chico Xavier deu a uma das perguntas do repórter Saulo Gomes, que lhe pediu posicionamento sobre a pena de morte, praticada em diversos países e que se discutia no Brasil naquele momento. Registre-se a coragem do jovem jornalista em tratar do tema macabro que a Ditadura Militar fomentava como meio de intimidação e meta de punição para seus opositores, como, aliás, nos bastidores e porões covardemente utilizou contra muitos, como os mais de trezentos brasileiros e brasileiras cujos corpos até hoje estão desaparecidos, permanecendo impunes até hoje os responsáveis por tais arbitrariedades e violência.
Chico, sempre modesto, dizendo que Emmanuel, seu guia espiritual, o orientava na resposta, se referiu à necessidade de reeducação criminal, citando o exemplo da Penitenciária Agrícola de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Reconheceu a necessidade de se coibir o crime, mas também assegurar ao infrator oportunidades de reparação de seus erros, até os passíveis de condenação à pena capital.
Com a voz embargada, Chico prosseguiu dando nova interpretação à Parábola do Bom Samaritano, considerada tradicionalmente somente como louvação à prática da caridade. Chico lembrou que quase todos os personagens foram qualificados: os salteadores, o sacerdote, o levita, o samaritano e o hospedeiro, menos a figura central da narrativa, apresentada apenas como “um homem”. Perguntou quem poderia ser aquele homem, respondendo que poderia ser inclusive um criminoso passível de condenação à morte, mas Nosso Mestre e Senhor Jesus Cristo não perdeu tempo em discutir de quem se tratava: era um homem que requeria amparo e auxílio, fosse quem fosse, e isso bastava.
Assim, brilhou outra vez a vanguarda de temas que ligam o céu à terra, antecipando questões ainda não assimiladas. Externando máxima ternura, sabedoria e entendimento, Chico demonstrou com firmeza, com base no Evangelho, que a pena de morte não se justifica em nenhuma hipótese, pois mesmo aos que praticam os maiores erros deve ser assegurada possibilidade de reabilitação.


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Quem sabe pode muito; quem ama pode mais.
Chico Xavier

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