“Já não vos chamo servos,
porque o servo não sabe o que o seu senhor faz; mas eu vos
chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu vos dei a conhecer”
(João, capítulo 15º, versículo 15)
Uma das principais
simbologias usadas pelo Cristianismo é a da liderança representada
por um pastor e suas ovelhas. O Cristo tem sido apresentado durante os
séculos como o Bom Pastor, e a humanidade, o seu rebanho - o conjunto de fiéis
a ser dirigido ou orientado por Ele.
Todavia, precisamos entender
que o Mestre é diferente do líder paternalista ou
autoritário que age no pressuposto de que as criaturas devam ser conduzidas aos
empurrões, a golpes de um cajado ou com um cão pastor nos seus calcanhares, com
a finalidade de não se desviarem da rota certa.
O conceito de Guia
Benevolente ou de Pastor das Almas é verdadeiro no que se refere à
solicitude infinita de Deus, por intermédio de Jesus, para com suas criaturas,
porém não deve ser entendido como atitude paternalista, quer dizer, dominação
sufocante, objetivando à obediência cega.
Atualmente, sugere-se
que os líderes não sejam protecionistas e que jamais utilizem a
frase “estou fazendo isso visando apenas a seu próprio bem”, a fim de impor
furtivamente suas idéias de direção e comando. Os aprendizes do Evangelho não
se desenvolvem num clima de servilismo patético, ou seja, não devem ser
conduzidos como ovelhas incapazes e inertes, ao som impositivo de um estalido
da chibata.
O aprisco seguro, os
campos de pastagens e as fontes de água límpida são fatores a ser
estimulados pelos dirigentes espíritas aos seareiros iniciantes.
E não os regimes de
austeridade paternalista, caracterizados pela tendência a uma eterna
passividade que impede o desenvolvimento da própria manutenção física, psíquica
e espiritual das criaturas.
Acreditamos que a
rebeldia está submetida às forças educadoras da Providência Divina,
razão pela qual ninguém precisa forçar ou literalmente “conduzir” os outros ao
caminho certo; no momento exato, as leis naturais farão isso.
Um núcleo espírita
cristão cresce quando todos se unem com a disposição de
desenvolver suas habilidades, sem qualquer rigorismo ou imposições. Há quem
acredite que um grupo apenas floresce quando as cabeças pensam de
forma idêntica. A prática tem demonstrado o contrário:
companheiros de índole
e habilidades diferenciadas obtêm resultados surpreendentes nas
tomadas de decisões e encontram com maior facilidade soluções criativas.
Nas searas de ação no
bem, não conduzamos os trabalhadores ao redil da mesmice, mas sim às
atividades da messe generosa da criatividade e do progresso interior.
O maior desrespeito
para com um companheiro de jornada está na tentativa de o
constranger aos nossos pontos de vista, sem considerar o que ele pensa, quer ou
necessita. Manter um comportamento desinteressado pelas aspirações de liberdade
manifestadas pelos liderados - ainda que no intuito de beneficiá-los - é
negar-lhes o direito básico à dignidade individual.
O Nazareno não
conquistou as multidões que O seguiam sendo prepotente ou
desinteressado de suas necessidades. Ele ouviu apelos e respeitou as
criaturas. Por isso, não agiu sozinho; arrebanhou inúmeros candidatos ao
entendimento da Boa Nova, pois não poderia transmitir sua mensagem
particularmente a cada pessoa. Inspirou colaboradores e, assim, criou
discípulos que, por sua vez, incentivaram outros obreiros ao serviço na Vinha
de Luz.
O comando do Bom
Pastor não implica obediência impensada a que se ame o próximo. Ao
contrário, sua liderança induz as pessoas a amar ao próximo espontaneamente.
Todo ensinamento, na missão do Mestre, reveste-se de profunda expressão
figurada:
“Já não vos chamo
servos” - serviçais prestam serviços e apenas obedecem as
ordens; “porque o servo não sabe o que o seu senhor faz; mas
eu vos chamo amigos” - amigos compartilham sentimentos e ideais e
participam das atividades de modo voluntário.
“Tudo o que ouvi de
meu Pai eu vos dei a conhecer” -na amizade e no amor se repartem os
bens imortais da alma.
Os verdadeiros líderes
iluminam o lado positivo de seus liderados, revelando o que neles
existe de bom e incentivando-os ao crescimento.
As ovelhas do rebanho
do Senhor são convocadas ao aperfeiçoamento de seus sentidos
interiores, para que possam por si mesmas perceber e interpretar, onde
estiverem, a voz do comando amoroso do Bom Pastor.
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